20 de novembro de 2000
Eleições

Sou um usuário "pesado" do micro. Diria mesmo que não saberia mais viver e trabalhar sem ele, de tal modo as facildades que oferece se incorporaram ao meu cotidiano. Mas nunca tive grande atração por jogos de computador. Com exceção da Paciência que acompanha o Windows e de um outro jogo chamado Mahjongg - que consiste em se retirar aos pares peças empilhadas em um tabuleiro virtual - nunca dei muita atenção a jogos. Todos me pareciam tediosamente iguais e previsíveis.

Mas, um dia destes, um amigo me apresentou ao Symcity 3000.
Trata-se de um jogo de simulação cujo o desafio é construir e administrar cidades. O jogador, elevado à condição de prefeito, tem de procurar atender às demandas da população utilizando os recursos arrecadados sob a forma de impostos. Se não são atendidos, os habitantes simplesmente abandonam a cidade. Além disso, o prefeito também enfrenta acidentes e catástrofes ocasionais e imprevisíveis. Como na vida real, enfim.

O programa que sustenta o jogo é sofisticadíssimo e, em suas versões mais elaboradas, é usado por seguradoras para avaliar o prêmio de seguros que envolvem riscos de acidentes e desastres naturais. Qual seria, por exemplo, o valor de um seguro contra danos provocados por um terremoto para um shopping center em uma área de Los Angeles?

É justamente essa aplicação do jogo que mais me fascina. Explico. Com a eleição de petistas para a prefeitura de diversas cidades e capitais brasileiras, voltou-se a se falar em Orçamento Participativo. Como o próprio nome já diz, trata-se de um modo de administrar o dinheiro arrecadado pela prefeitura em impostos que leva em conta a intervenção direta dos habitantes de cada região.

É aí que o jogo transforma-se em um instrumento de cidadania. Pois é possível reproduzir virtualmente cada bairro da cidade e simular diversas soluções que atendam às demandas da população até encontrar aquela que seria a ideal. Sempre com um olho no caixa e outro na rua. Cada habitante vira um subprefeito e pode imaginar a cidade dos seus sonhos e testá-la realmente, discutindo e comparando as soluções com as propostas por outros cidadãos.

Junte aí o voto eletrônico via Internet e já podemos vislumbrar uma revolução a curto prazo na administração pública. Depois dessa confusão toda nas eleições americanas, é certo que a próxima eleição presidencial deles será um show de tecnologia. Daí para o voto direto em questões legislativas cotidianas será um passo.

Sério, desconfio que o jogo de maior sucesso na próxima década será a política! Cidadãos insones atravessarão noites simulando soluções para suas cidades, estados e países, negociando votos diretamente entre si e reduzindo os políticos ao que de fato, por definição, eles deveriam ser: meros delegados da vontade popular. Será o fim do "político profissional"?

Não sei, mas nessas eleiçôes americanas, por exemplo, eleitores de Gore e Ralph Nader, que em tese disputavam a mesma faixa do eleitorado, criaram sites na Internet onde "negociavam" votos. A idéia era transferir votos de um candidato para outro, equilibrando a votação para permitir que os "verdes" de Nader alcançassem os 5% de votos necessários para pleitear recursos públicos de campanha nas próximas eleições. O objetivo não chegou a ser alcançado - Nader teve apenas 3% - mas criou o embrião do que poderá ser uma espécie de Legislativo popular virtual, a ágora moderna que era a base da democracia grega. Tomara...