14 de março de 2005
Meias, adoro meias

A esta altura, todo mundo já deve saber o que é o Orkut. Dezenas, senão centenas, de artigos já foram escritos. Centenas, senão milhares, de referências, opiniões, comentários já foram feitos - uns contra, outros a favor. Enfim, o negócio é um sucesso.

Mas calha do leitor ser como eu, um sujeito quase inteiramente indiferente aos modismos, salvo quando eles coincidem com alguma obsessão particular, e pensar que Orkut é alguma novidade da culinária japonesa lançada por um sushiman cearense, um novo tipo de ginástica ou a mais recente superstar do mundo pop, dessas com voz e aparência de quem acabou de sofrer uma lobotomia.

Não, irmão-leitor, nada disso. Orkut é um site que conseguiu a coisa mais difícil de se conquistar na Internet: o cadastramento voluntário de milhões de pessoas. Aliás, apesar das milhares, senão milhões, de linhas gastas para falar sobre o tema, que eu saiba ninguém atentou para esse detalhe fundamental, que faz do Orkut um caso de marketing digno de estudo. Durante meses, as pessoas vagavam pela Internet como indigentes virtuais implorando por um convite para entrar no Orkut. Porque talvez esse fosse o excitante charme da coisa, o que lhe dava um certo gosto de proibido: só se podia entrar convidado por alguém que já fosse cadastrado.

O que dava aos eleitos um poder discricionário comparável ao de um porteiro de boate. Da sua parte, o convidado preenchia o cadastro com o mesmo sentimento de vitória que um novo rico experimenta quando consegue finalmente ingressar naquele clube prive hiper chic. Tudo isso de graça, se não contarmos alguns míseros quilowatts. Parece meio idiota? Bem-vindo ao mundo das emoções virtuais, leitor distraído.

Claro que, no fim das contas, é facílimo entrar. Eu pelo menos não conheço ninguém que não tenha conseguido, mas na esteira do sucesso do Orkut (que nem sequer foi o primeiro do gênero!) dezenas de outros sites semelhantes foram lançados, alguns até mais funcionais e tal. Mas, até hoje o Orkut guarda um certo charme pioneiro e "Você está no Orkut?" ainda é uma pergunta capaz de provocar alguma emoção...

Eu estou lá quase desde o começo, graças ao convite da Luciana Arraes, que escreve aqui, nas quartas-feiras. O que me salvou talvez da mendicância virtual a que tantos se submeteram. Obrigado, Luciana, por poupar minha frágil vaidade!

Além de trocar de mensagens públicas, que o pudor às vezes recomendaria enviar por e-mail, e colecionar amigos, a outra coisa que se pode fazer no Orkut é criar comunidades. Há literalmente milhões delas. Assim que o sujeito ingressa, movido pelo demasiado humano espírito gregário (ainda mais se ele é brasileiro - e os brasileiros tomaram o Orkut como uma espécie de praga virtual), ele vai ingressando em todas as comunidades que acha interessantes. Logo estará inscrito em 20, 50, 100, 200 comunidades - até descobrir que não tem nada a dizer sobre todos aqueles assuntos.

Pelo menos comigo foi assim... Hoje estou em nove comunidades e só participo de duas. E dessas, a que mais gosto é a "Eu adoro andar de meias!". Foi reconfortante para mim descobrir que nada menos de 25.156 pessoas também adoram andar de meias. E esse número não pára de crescer! A cada semana são mais centenas de adeptos que rompem o anonimato para se juntar ao que já me parece quase um culto pagão e hedonista. Sim, temos os pés no chão - mas com ressalvas!

E, entre essas milhares de pessoas, quase 200 confessam um prazer ainda mais sutil e apurado: dormir de meias! Em qualquer época do ano! Sozinho ou acompanhado! De meias! Sempre! Somo a elite dos eleitos. Sim, temos os pés no chão - mas cuidamos para que sonhem...