4 de abril de 2005
O cronista entrevistado

Ontem, dia 3, fez cinco anos que estreei aqui como cronista. Foram 263 crônicas, todas elas disponíveis no Café Impresso. Fico feliz, muito feliz. Para comemorar, pensei em republicar minha primeira crônica, "A cumplicidade das coisas". Mas agora, na hora H, me ocorreu algo ainda mais cabotino!

O Pablo Quintana, um jornalista de 28 anos, de Goiânia, está fazendo uma monografia de mestrado sobre crônica e resolveu me entrevistar. Eu respondi com o maior e mais vaidoso prazer. Só não havia ainda publicado a entrevista no Lado Blog do Café por falta de tempo.

Mas agora me ocorreu a idéia: nada melhor para comemorar esses cinco anos do que uma entrevista! Então o leitor faça o favor de lê-la como se fosse um evento comemorativo, feito especialmente para esta data. Por problemas de espaço, tive de cortar algumas perguntas. O texto integral vai estar depois lá no Café.

Qual a sua opinião sobre a definição - ou a indefinição - do que é crônica?
A melhor definição de crônica talvez seja aquela atribuída ao conto: crônica é tudo que se chame de crônica. Aliás, essa "confusão" entre crônica e conto tornou-se comum e eu mesmo abuso dela quando preciso. Ítalo Moriconi incluiu, numa antologia de contos, "O afogado", uma célebre crônica de Rubem Braga. No que, aliás, fez muito bem. Mas, se é pra tentar uma definição, talvez se possa dizer que a crônica é um relato curto, em primeira pessoa, que narra uma experiência comum, cotidiana e dela tenta extrair alguma conclusão mais ou menos explícita, quase sempre de caráter lírico.

Como você escreve suas crônicas? Como escolhe os temas?
Honestamente, sem nenhuma intenção de fazer graça: nem eu sei. Ou só Deus sabe. Acho que aqui cabe a velha máxima: são os temas que me escolhem. Geralmente escrevo em cima da hora ou na véspera. Aliás, voltando à primeira pergunta, eu vejo a crônica como uma mistura de escrita automática e improviso jazzístico. Não sei se dá pra notar, mas às vezes eu me sinto um desses saxofonistas de metrô que se entregam a longos solos em que se imaginam Miles Davis e só acordam quando ouvem o tilitar realista de uma moeda sendo atirada em seu chapéu... Para mim (e aqui não se trata de uma definição, mas de uma relação pessoal) a crônica é isso: um improviso, um exercício de estilo.

Você acredita que a existência da crônica no jornal torna o leitor menos passivo ao ler uma notícia? Ensina o leitor a ser mais interpretativo?
Não sei... A crônica é só um cafezinho para o espírito.

O fato de ser jornalista propicia a você perdas ou ganhos?
Tanto quanto se eu fosse dentista ou açougueiro.

Quando a crônica passa do jornal, da revista, para o livro, o gênero se eterniza. Por outro lado, alguns críticos defendem que nos livros a crônica teria um gosto de fruta passada do tempo. Dê sua opinião.
Bobagem. Boa literatura é sempre boa literatura. A crônica é só um gênero. Há bons cronistas, como há bons contistas ou bons romancistas -gente que merece um livro. E os maus. E esses também publicam - e até mais que os bons.

Pessoalmente, diferencio, além de outras características, o trabalho do cronista e do repórter pelo caráter artístico. Fazer crônica é fazer arte?
Claro. E escrever uma boa reportagem também.

Na sua opinião, o que é uma boa crônica?
É um texto que diverte e emociona.

Espaço livre para suas considerações acerca do ofício de escrever.
Escrever é bom. Há qualquer coisa de misterioso, de sagrado em escrever, mas eu não saberia explicar o quê.