11 de setembro de 2006
Fly me to the moon

"Quando se está muito junto não existe distância". Só me dei conta de que a frase era redundante, uma tautologia, como se diz em lógica, truísmo daqueles típicos do Marquês de Maricá, quando a escrevi de fato, já com a intenção de, quem sabe, usá-la como inspiração para uma crônica cheia de intenções líricas.

Sim, porque o que eu, na verdade, queria dizer era exatamente o oposto do que a frase transparece: quando duas pessoas estão muito intimamente ligadas, juntas por um sentimento amoroso muito intenso, importa pouco a distância que as separa. Desde que, é claro, essa separação não seja longa demais! Por isso, nem parece que você ainda não chegou, e, sim, que está lá no quarto em silêncio ou bem aqui atrás de mim, os seios quase me roçando as costas...

Talvez porque nos momentos em que essa intimidade se concretiza numa proximidade real dos corpos, os sentidos se aguçam, como se a memória e a imaginação se juntassem para adensar ainda mais a sensibilidade. Então tudo se sensualiza: o cheiro do bolo de chocolate assando, a água quente do chuveiro, Tony Bennett cantando "Fly me to the moon" e você me sussurrando no ouvido que não sabe dançar... (Nem eu, mas e daí? Importa estarmos assim tão juntos que a distância não exista).

Enfim, são tantas pequenas coisas, these foolish things, que, sabe, a espera é até necessária e boa. É quase uma segunda vida. Uma vez, eu disse ou escrevi em algum lugar, que o amor é o que fazemos na sua ausência. Repito agora com mais sentido. Pois isso de dialogar com a sua ausência é como um sonho consentido, que sonho acordado e com mais prazer do que se dormisse, porque os sonhos que sonho quando durmo, sonho separado e sem querer, sonhos feitos para esquecer.

Aliás, agora, vou aproveitar que você não está, Ruby, my dear, para lhe contar uma coisa que eu nem sabia, mas já desconfiava (não, não é isso, sua boba...): sabe, desde que construíram aquele prédio alto ali na frente, e me roubaram a vista do Pão de Açúcar, eu todos os dias acordo me sentindo um estrangeiro sem paisagem, alguém que poderia estar em qualquer cidade deste mundo, cercado de prédios de janelas anônimas, e sempre me bastaria o aconchego de um amor como presente e umas tantas músicas que são como notícias boas do passado e que hoje eu posso baixar da Internet em qualquer lugar que eu esteja...

Se já não nos bastasse estarmos apaixonados, Stella by starlight, a gente que vive online sabe que a geografia é hoje um preconceito do século passado (e o nacionalismo, claro, continua sendo o último refúgio dos canalhas). Então, onde estivermos juntos, aí será o mundo, nosso país e nossa cidade... Eu, por fraqueza, ainda acrescentaria essa lua e um longínquo cheiro acre de mar... E só.

Pense nisso, enquanto "As times goes by", na voz de Julie London..