Assistindo a um documentário sobre as emoções, feito pela BBC, percebo o que me parece um cacoete intelectual: a redução dos raciocínios a um esquema binário de cuja tensão redunda um terceiro elemento conclusivo. Ou seja: o velho esquema hegeliano tese, antítese e síntese.
No caso do documentário, partia-se da antiquada oposição razão x emoção (abolida por Descartes e retomada por Kant) e se buscava uma causa das emoções.
Romanticamente, a apresentadora julgava que as emoções extremas eram o caminho mais eficaz para se entender as emoções, porque seriam os momentos em que “perdemos a cabeça”, em que a razão é sobrepujada pelas emoções.
Mas será isso verdade? Ou ao contrário, o que experimentamos como emoção será uma aceleração da razão, por exemplo?
Neste momento, importa mais “denunciar” o esquema adotado por ela do que propor um novo.
Porque, quando “perdemos a cabeça”, talvez o que percamos seja a emoção que suaviza nossos juízos. Talvez quando “perdemos a cabeça”, nos tornemos “hiperracionais” e julguemos sem nenhuma compaixão…
A tolice é opor emoção e razão, matriz de outra tolice hj mais nocisa, a oposição ego/ id.
O ser humano é uma incógnita. Há momentos em que a razão é tão lerda que as emoções tomam conta. Noutros, ocorre o contrário. Não dá para saber a razão, ops, coincidência de palavras… é, talvez ela prevaleça…
para harmonizar razão e sensibilidade, eu proporia a observação equânime das sensações físicas, pensamentos e emoções. mas as pessoas buscam o êxtase, o excesso, o máximo de tudo para já. vivem em urgência emocional, como diria a martha medeiros.