O fundamento do poder

O poder se funda na escassez.

Escassez de recursos, escassez de oportunidades, escassez de meios, escassez de produtos. A abundância fomenta e estimula a liberdade, a criatividade, a ousadia porque sempre se pode contar com o excedente, seja sob a forma de crédito, seja sob a forma de caridade.
A escassez, ao contrário, propicia o medo, a reserva, o egoísmo. Mais do que conservador, o sujeito torna-se um reacionário: a “aversão ao risco” toma forma de paranóia e ninguém quer ou permite mudanças.

Por trás de boa parte das críticas ao industrialismo – sobretudo as críticas recentes de caráter ecológico – está a nostalgia de uma sociedade “aristocrática”, altamente hierarquizada, rigidamente controlada.

Martin Heidegger é o patrono mais ou menos explícito dessas idéias que enxergam o homem livre como uma anomalia civilizatória e antinatural. Para essa gente – não custa lembrar que Heidegger se afastou do nazismo por considerar que ele tomava rumos populistas e impuros demais para seu gosto – para essa gente, eu dizia, liberdade e natureza são termos opostos conflitantes.

E, de fato, se tomarmos a natureza como o reino da necessidade, nela não haveria lugar para a liberdade. Melhor até: a questão da liberdade não se coloca na natureza. É uma questão essencialmente humana. Na natureza as coisas são o que são, sem nuances: leões vegetarianos só existem na ilha do Éden, do Fantasma (quem lembra?).

Não é preciso muito esforço para perceber que para o fundamentalismo ecológico é a liberdade humana que deve ser sacrificada no altar da natureza. Ao renunciar à liberdade, o homem abriria o caminho de retorno à pureza adâmica, primeira, que hoje só pode ser vislumbrada pelos poucos sacerdotes iluminados desse fundamentalismo nem tão novo assim.

Em contrapartida, há uma ecologia que não recusa o industrialismo e mesmo dele resulta, numa relação que é completar e necessária. Não só por conta de todas as boas intenções que dizem lotar os infernos, mas também por uma razão muito simples: lucro.

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