Passou sem problemas pela porta giratória, procurou o espaço da gerência e foi se encaminhando devagar, para se fazer notado. Havia um grupo de mesas, mas a única sem cliente era a de uma moça loura, bonita, que não devia ter mais do que 30 anos. “Não de mulher é mais gostoso”, pensou consigo mesmo.
Sentou-se e encarou a gerente:
– Bom dia! Quero abrir uma conta!
– Muito bem! O senhor já é nosso cliente?
– Não.
– Já trabalha com outros bancos?
– Não.
– Então eu vou precisar de alguns documentos seus… Coisa simples. Comprovante de renda o senhor trouxe?
– Não. Na verdade, nem tenho.
– Ah, o senhor é autônomo…
– Não! Eu sou desempregado…
– Ah, sim…
– Sim?
– Bem, o senhor tem poupança?
– Não!
– Quer abrir uma? É fácil…
– Não, não! Eu quero uma conta…
– Que bom! Assim que o senhor reunir condições para isso, será um prazer tê-lo como cliente…
– Ah, não!
– O senhor não quer?
– Não! Claro que não! Eu só quero…
Jair percebeu que a cada não que a moça lhe arrancava ele se sentia mais fraco. Estava ficando frio e um leve tremor lhe percorreu o corpo. Era fome.
– Tudo que eu quero é um não… Um, não, vários!
– Como assim?
– Um não! Não! Entende? Não!
De repente, o desespero e a fraqueza lhe inspiraram.
– Se eu lhe convidar para passar a noite lá em casa hoje, o que você responderia?
A gerente arregalou os olhos e em seguida fez um sinal discreto com os dedos. Jair ainda insistiu “Quer dormir comigo esta noite?”, mas um dos seguranças já estava ao seu lado.
– Queira me acompanhar, senhor.
– Não! Jair gritou e o que lhe restava de força se esvaiu. Sequer resistiu quando o rapaz o levantou quase carinhosamente pelo braço e o conduziu até a porta. No caminho, revirando os bolsos, encontrou uma nota amassada de um real e mais algumas moedas. “Deve dar pra um salgadinho”, pensou quando se viu na rua.