Manifesto Canibal

Bastou escrever uma crônica ironizando o Ecologismo para ser tratado pelos ecologistas, ecólogos, ecólatras, ecopatas, econheiros, ecoistas, ecônomos, ecômetras, ecósofos como um… ecoclasta!
Logo eu, vegetariano, não-fumante, ciclista e cidadão de hábitos modestíssimos. Mas o Ecologismo é uma religião panteísta onde só não há lugar para o homem. De ponto mais alto da Criação, na Renascença, chegamos ao século 21 rebaixados à condição de “câncer da Natureza”, expressão comuníssima entre os crentes do Ecologismo, que assim se excluem dessa desagradável e inoportuna mutação dos símios, a “espécie humana”.

Meu anacrônico espírito renascentista não deixa de ser uma forma de ceticismo. Salvem as baleias, os micos, os pássaros – mas não esqueçam do homem, do homem comum, com agá minúsculo e ambições modestas, quase ingenuamente egoístas.

Uma das chatices da mentalidade revolucionária de que o Ecologismo é herdeiro é essa promessa de um Goethe em cada esquina. Um planeta de intelectuais – isso, sim, seria insuportável.Ou melhor, não de intelectuais exatamente, mas de especialistas travestidos de intelectuais.

Reclama-se o “uso racional dos recursos naturais”. Mas quem vai determinar o padrão de racionalidade? Ora, o falso intelectual investido da condição de burocrata global. O falso intelectual burocrata é o sumo sacerdote do Ecologismo. E a Humanidade, cega pela desenfreada ânsia de consumo, necessita com urgência, ainda que não o saiba, da autoridade de seus preceitos. Ele é o artífice do Novo Homem. E sua receita é simples: elimine-se o capitalismo e o Bom Selvagem estará de volta – quase naturalmente, com convém.

De volta à taba, enfim!

Pensando bem, deveríamos antecipar o passo seguinte, o inevitável retorno à Antropofagia. Que o homem volte a comer o homem – literalmente. Querem carne? Comam seus filhos, parentes e vizinhos. As vantagens ecológicas são inegáveis. Porque não seria um mero canibalismo arcaico, mas um canibalismo científico, o Vegetarianismo Canibal. Ou seja, o homem não comeria nenhum produto de origem animal – à exceção, claro, da carne humana.

Rapidamente, a população decairia a níveis aceitáveis, reduzindo o consumo, e os animais seriam deixados em paz. Resta a questão: quem comeria quem? Ora, a solução é simples e já existe: os créditos de carbono. Quanto maior o consumo do sujeito, menores os seus créditos e, por conseqüência, seu tempo de vida. Seria uma espécie de revolução gramsciana ecológica. Os ricos iriam sendo abatidos aos poucos, no gozo pleno de sua felicidade consumista, sem necessidade de uma revolução bolivariana. Justiça social é isso, o resto é papo de petista.

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