Sobre a crônica da semana

A relação entre texto e autor é atravessada de ambiguidades. Quando acabei de escrever esta crônica, a achei medíocre. Metafísica de quinta, esoterismo de salão, vago alinhavo de palavras eloqüentes. O que a salvou foi a obrigação de entregar uma crônica em dia e horário determinado. Valia como o retrato de uma noite.

Depois, ao lê-la em voz alta para gravá-la, fiquei encantado com a sonoridade de suas frases, com seu sinuoso equilíbrio.

Mesmo seu aspecto mais obscuro, ou digamos “noir”, me parece agora uma metáfora da concentração necessária para se escrever um romance, uma peça de teatro, uma história mais longa do que uma crônica. Crônicas são como improvisos, uma jam session.

Enfim, entre o pai babão de sua cria e o crítico cruel da obra alheia, entre o aquém e o além, equilibra-se o autor em face de seu texto.

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