Greenspan e a recessão americana

Li a entrevista do Alan Greenspan dada à Veja, em setembro do ano passado e citada por Reinaldo Azevedo ontem. Esclarecedora e eu diria mesmo tranquilizadora. Aparentemente dá a ela até um prazo.

E aí reside minha dúvida quanto à tradução da entrevista. No trecho: “Se os Estados Unidos entrarem em recessão em um ou dois anos, o Brasil sentirá, assim como a China. Não tenham dúvida disso.”, Greenspan quis dizer em recessão “por um ou dois anos” ou é isso mesmo “em um ou dois anos”?

Como a entrevista é de setembro, tenho a impressão que nessa época o Fed e os bancos centrais europeus já tinham despejado – ou estavam na iminência de despejar – algo em torno de 800 bilhões de dólares para dar fôlego ao mercado financeiro. Mas eram, claro, empréstimos de curto prazo. Se não me engano, quatro meses. Logo, era fácil prever que por esta época do ano teríamos um “resurgimento” da crise, com os bancos em situação mais frágil desabando, como aconteceu com o Bear Stearns. Detalhe q foi sistematicamente esquecido por todos os jornalistas econômicos, como se esse dinheiro não tivesse de ser pago. Brasileiro até hoje acredita que dinheiro dá em árvore. É o que dá ter por gerações lidado com papel pintado.

Aliás, o próprio Greenspan disse à Veja: “nunca consegui me desvencilhar de uma dúvida persistente sobre o Brasil: como uma economia pode ter sido tão mal gerenciada a ponto de exigir reforma tão drástica como foi a do Plano Real?” A memória disso não se apaga assim, de uma hora para outra, da memória de um país.

Enfim, fico imaginando o que teria sido essa crise se o Fed e os BCs europeus não tivessem agido rápido há seis meses.

Por isso acredito que tenha havido um erro de tradução na entrevista: não faz muito sentido que Greenspan tenha dito do que “em um ou dois anos”, se a crise já estava instalada e sua consequência previsível é a recessão. Seria mais coerente ele prever que essa recessão se estenda “por um ou dois anos”.

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