Revolução digital e democracia

Eu imagino que a esta altura das prateleiras vazias, haja em Cuba um policial para cada habitante. É a forma mais sensata do sujeito sustentar a família sem sair de casa: vigiando a própria mulher. Ou vice-versa.

Já li muita coisa sobre a ilha-presídio e seu carcereiro vitálicio, mas o melhor texto ainda é o livro de crônicas de Alex Castro sobre o mês que passou lá. São crônicas saborosíssimas, sem o menor ranço ideológico. Sem deixar de delcarar sua simpatia pela ilha e alguns aspectos do regime, Alex não esconde os absurdos que viveu e presenciou.

Mas isso é uma digressão. Queria falar da censura que o estado policial cubano tentou impor ao blog da corajosa Yoani Sanchez, o Geracion Y . Os jagunços de Fidel tentaram bloquear o acesso ao site, aproveitando que, claro, as telecomunicações como tudo mais também são controladas pelo Estado.

Não deu certo. Pelo que eu entendi, outros blogs pelo mundo inteiro e na própria Cuba começaram a reproduzir os posts de Yoani. Descentralização e clonagem são dois aspectos que tornam a internet praticamente incontrolável. A China também tem tentado, as apesar de ser infinitamente mais rica e contar com a cumplicidade de empresas como Cisco e Google, ainda assim a tarefa é quase impossível.

E não adianta, a natureza quase imaterial do mundo digital, a miniaturização e simplificação dos poucos objetos “reais” envolvidos, a programação cada vez mais aberta – tudo favorece muito mais o indivíduo do que o Estado.

Por isso eu faz parte do meu repertório repetir que o grande embate do século 21 será entre o indivíduo e o Estado. Venceremos, mas a guerra será árdua.

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