Antes da novela

Eu disse que a história das balinhas da semana passada ia virar novela – e vai. Mas em tempo de eleição, antes da novela tem sempre a propaganda eleitoral gratuita. Vamos lá…

Eu voto no Gabeira desde o dia em que o vi fazendo campanha sozinho de bicicleta em pleno Centro do Rio. A calma obstinação, a discreta nobreza, a delicada força me conquistaram e eu que sempre votava nulo passei a votar em Gabeira. Pra tudo – e sobretudo se ele nem fosse candidato. Eleição de síndico? Gabeira. Presidente, governador, paraninfo? Gabeira. Craque da semana, crioulo mais bonito, musa do verão? Gabeira.

Para prefeito, claro, Gabeira. Desde sempre. No começo, nem achei que desse. Agora, não tenho dúvida. Gabeira, com esse jeito um tanto Gandhi, um tanto dândi já é o maior fenômeno dessa eleição. Ele e o Kassab, azarões atropelando na reta de chegada. Difícil parar agora.
Gabeira caiu no gosto do carioca. Virou moda. Não existe nada mais carioca hoje do que votar no Gabeira.

Acho que o Rio vai elegê-lo porque Gabeira emana essa combinação de delicadeza e força necessária para dar conta da insana violência do Rio. O Rio é uma cidade literalmente de cabeça pra baixo: em qualquer cidade civilizada do mundo os morros cariocas seriam os lugares mais bacanas de se morar. Aqui são o que são. Tamanha inversão não se faz sem violência e expressa bem nossa loucura.

Claro, o prefeito pode muito pouco nesse âmbito, mas é aí que a gente vê o quanto a eleição é no fundo um ato de fé: acho que o eleitor quer impregnar o Rio do espírito pacificador que o Gabeira encarna.

Na antiga China, as cidades, quando enfrentavam períodos de desequilíbrio intenso, chamavam uns sábios feiticeiros para “restabelecer o Tao”. Eles curavam a cidade lhe devolvendo o equilíbrio. Pois é, eu acho que a esperança do carioca é que o Gabeira seja o Tao.

Essa esperança não é infundada. Ao contrário, é bastante lógica. Gabeira não ficou rico com a política nem fez dela um bem hereditário, passado de pai para filho. Não existe o Gabeirinha, o Gabeira Jr, a Fulaninha Gabeira. Não há uma dinastia de Gabeiras. Gabeira é primeiro e único.

Enfim, em quem mais você pensa quando quer citar um político que não precisaria mentir para explicar a origem dos seus bens?

* * *

Semana que vem, voltamos com a novela das balinhas em nossa programação normal.

5 Comentários

  1. MarieAntonio sumiu …rsMas vá a Tribuna da Imprensa que a crônica nova dele está lá.É no caderno 2…

  2. em brasília, não temos eleições para prefeito ou vereador, o que, na realidade, de nada alivia as eternas tensões políticas por aqui. talvez esteja faltando uns gabeiras por aqui, ou melhor, esperanças…bjs…

  3. lindo, adorei. especialmente a falta de gabeirinhas. linkei lah no lll. ainda está trabalhando pra tribuna? abracao, alex castro

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