os tempos

Tudo era gripe, hoje tudo é virose. Ou seja, nos tornamos ainda mais genéricos. Nomes, enfim, para uma coisa que sobre o corpo súbita se abate numa sensação de fraqueza que parece anunciar a morte iminente: as pernas bambas, um frio na barriga convulsa, o coração batendo morno, fraco, a respiração curta. Um horror que se alonga por respeitáveis minutos até que o corpo volte a se tornar minimamente confiável. Vc se medica e desfalece na cama. Dorme numa especie de coma induzido caseiro. É tudo que vc pode fazer: deixar que o corpo trabalhe.

Eu falava ontem dessa dualidade, corpo e consciência, cada um dotado de uma espécie de inteligencia. A maior parte dos processos do corpo passam ao largo da consciencia. mas a consciencia reconhece na regencia desses processos a presença de uma inteligência que não pode ser ela própria – ou não parece ser, ou ela saberia.

O mesmo parece acontecer com o mundo, a vida – a que pertence o corpo, o meu corpo. A inteligencia do corpo é a inteligencia da vida. Por outro lado, só este corpo parece carregar uma consciência…

Uma digressão: um dos meus personagens preferidos – quando bem desenhado – era Tarzan. Tanto na TV quanto nos quadrinhos. E ainda mais nos quadrinhos. Lembro – e isso me deliciava – que ele conversava como os animais. Ele conhecia sua lingua e falava com eles. Os animais podiam narrar para ele suas sensações. Os hindus dizem que os animais só não falam conosco para evitar que nós os escravizemos.

Enfim, em que sentido a consciência humana pode dizer-se singular, distinta, única?

A consciencia pensa o pensamento, ela reflete. Reflete o mundo, a vida. A consciencia é como o espelho da vida. Por outro lado, ela (como os espelhos?) trafega num plano de objetos impalpaveis e como que fora do tempo – do tempo sucessivo próprio do mundo.

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