+ Coincidências

Junia Lane é uma excelente fotógrafa. Uma retratista, para ser exato. Ela tem um talento especal para fotografar pessoas.

http://www.junialane.com/

Junia reproduziu no seu blog uma crônica que eu gosto muito.

http://junialane.multiply.com/journal/item/5/Sem_Despedidas

E um leitor comentou. Me chamou atenção o comentário pq, logo depois de dizer que o texto o pegara, ele me chama de cínico, niilista, superficial, covarde, conformista e velho – nessa ordem.

Confiram:

“Esse texto merece um comentário. Muito bom, pena que cínico demais. Não conseguia parar de ler. Só não concordo com a visão niilista do autor. Penso que se aprofundassemos mais nossas relações seriamos mais felizes do que se isolando na superficialidade. No fundo ele é um covarde mesmo, rsrsrs. O que ele chama de estilo eu chamaria de conformismo estilizado. “Deve ser a idade”. Tanto a minha quanto a dele.”

Como sou um otimista, fico com o elogio maior que se pode fazer a um escritor: “não conseguia parar de ler”. O resto, meu caro, é irrelevante. O que vc acha ou deixa de achar, o que acha que acha do que acha que eu acho, não me importa nem um pouco. Porque eu mesmo já acho um pouco diferente do que achava naquele momento. Todo pensamento é provisório. E deve honestamente admiti-lo. Por isso toda discussão muito exaustiva é vã.

Eu só tenho tentado me dar mais chance de gostar das coisas que gosto – e é o que recomendo a vc.

Niilismo é exatamente isso: desconfiar a ponto de não se deixar gostar de algo. Não relaxar em face do prazer de gostar. O niilismo é o não de antemão.

Digo que não há niilismo porque reafirmo a vida, seu carater positivo, sempre para frente, tout droit.

Há, sim, uma teatralidade, um “querer parecer durão”, à inglesa, tough guy. Eu dei até a pista: eastwood/wittgenstein.

(Uma das razões porque admiro o tratactus de wittgenstein é que ele foi escrito em pleno campo de batalha da primeira guerra mundial – aquela carnificina que foi só o tira-gosto antes da segunda. Wittgenstein era como Camões atravessando horrores com seus manuscritos. Outro livro monumental (este não li)? : Ulisses. Do mito atemporal ao instante, o eterno se comprime naquele dia 16 de junho de 1904. http://en.wikipedia.org/wiki/Bloomsday
http://www.inspiringcities.org/index.php?id=1&page_type=Article&id_article=18189

Talvez seja isso que vc chama de cínico, não sei… Cínico eu gostaria de ser no sentido original, arcaico, grego, que o diálogo entre Diógenes e Alexandre tão bem ilustra. http://afilosofia.no.sapo.pt/10diogenes.htm

(Mas se não chego a ser covarde, também não seria tão imprudente. Gosto, enfim, de me imaginar um inconformista prudente)

E veja que engraçado, como podem ser tão díspares a intenção de quem escreve e a interpretação de quem lê: quando recomendo atenção e silêncio me parece óbvio que é o único caminho que enxergo na direção da tão perseguida profundidade – que eu prefiro chamar simplesmente de intimidade.

Senão, dá nisso: sem a menor intimidade, apenas pela primeira leitura de um único texto, o sujeito já diz que “no fundo” (lá vem o bloco da profundidade de novo) eu sou covarde mesmo. Acredito que todos já fomos covardes mais vezes do que gostaríamos. Até por educação, ninguém deve ser um valente inconformista militante 24 x 7!

Conformismo e inconformismo, profundidade e supercialidade – não. Prefiro pensar em termos de sintonia (intimidade) e harmonia (conformidade, integração).

Mas o que me chamou atenção no texto que a Junia publicou é que lá está a solidão de que falava hoje, a solidão de Deus em cada um…

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