Insight

Me aconteceu hoje na praia… Eu queria contar em forma de crônica ou poesia – e, quem sabe, consiga mesmo fazê-lo. Mas não quero esperar até lá para dividir com vocês a experiência que, em seu máximo vigor, não durou mais do que poucos segundos. Ainda que depois tenha durado o tempo de ir buscando palavras que a contassem, combinado ao eco ainda presente da sensação primeira, algo ao mesmo tempo deliciosamente intelectual e sensível, como talvez o vestígio do frescor inicial do perfume sobre a pele que vai se desvanecendo mais lentamente porque o odor parece fixá-lo, retê-lo em algum lugar limítrofe entre o corpo e o espírito a tal ponto que não sabemos se é a sensação física que alimenta a idéia ou, ao contrário, a idéia que se vivifica no corpo, como nos sonhos…

Eu tinha acabado de sair do mar e me deixei ficar de pé, os olhos fechados, ouvindo as ondas e sentindo o calor do sol me envolvendo inteiro. Sempre sinto uma sensação de exaltação e júbilo nesses momentos e já falei disso muitas vezes, quando digo que a praia é meu (quase secreto) templo.

Mas desta vez me veio ao espírito uma frase do Evangelho de Mateus: “Ninguém chega ao Pai senão por mim”.

E então entendi o que ainda não sei explicar: que, se Jesus é Deus encarnado, desde então é pelo corpo que se chega ao Pai. Entendi que Jesus é o corpo e o Pai é o Mundo.

E entendi o significado da morte e ressurreição de Jesus: o corpo é imperecível. Por isso, a promessa de Jesus é a promessa da ressurreição da carne.

E entendi que esse é o sentido da comunhão: tornar meu corpo o corpo de Cristo.  Como ? Sendo um dos seus. Um dos que santificam o corpo pela plena aceitação da vida: “Tudo é bom”. Em outras palavras: pelo amor. Ser capaz de amar genuinamente, incondicionalmente, todos – isso é a graça, a salvação, o caminho da vida eterna.

(Entendo agora que escrevo que é por Jesus, através dele, que a Vida em mim, se reconcilia com o Mundo e alcança Deus em sua eternidade)

* * *

O Paulo Brabo, lá no Bacia das Almas,  ressalta sempre o sentido da graça em Jesus, que é pela graça de Deus que nos salvamos, e não por nossos méritos, o que torna vã todas as tentativas de barganhar com Deus através de sinais exteriores como um “comportamento exemplar” ou coisas do gênero. Desconfio que seja porque Deus sabe quando agimos por amor, por genuíno amor. E talvez seja preciso um só, um único gesto de amor genuíno, para que nos salvemos…  O que é “amor genuíno”? A gente sabe, todos sabemos, mas fingimos poder alegar ignorância: “Eu não sabia…”.

6 Comentários

  1. Adoro tudo o que você entende e acha que não sabe explicar.
    e aquilo que você repete: “tudo é bom”.
    beijo,
    Deb

  2. Belo insight, Antonio. Já tive alguns estados de graça semelhantes, mas te conto outra hora. Este teu, no entanto, me deixou feliz.

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