Não são gaivotas.  São fragatas. Fragatas do ar. Que voam imóveis, as asas tensas em vê, planando. Todo dia elas passam pela minha janela duas vezes: de manhã e no fim da tarde. Um bando delas. Deve ser uma grande avenida de correntes regulares que passa na porta delas. Passam biguás também. É o trabalho deles. Subexistir, sobreviver. E reproduzir. Isso é essencialmente a vida. Sobreviver e reproduzir. Dia a dia. O homem foi inventando outros tempos, mas longos, mais íntimos.

Mas durante muito tempo o homem deve ter sido isso: tribos deambulantes, nômades segundo as estações. E como deambulamos! Há homem em todo lugar. O homem só pode ser uma espécie a parte, como as aves, os peixes, os reptéis – a despeito dele ser também mamifero. Porque tem gente em toda parte. Na aparencia muito distintos.  Gente que sobreviveu isolada por um tempo quase incalculável, como aquela gente do Pacífico ou os índios do Brasil. Vc não encontra outros bichos, mas homem sempre tem. Como tem passaro, tem réptil, tem peixe. E tem outros mamíferos. Mas de todos os mamíferos o homem é o unico que está em toda parte.

E como os homens estavam dispersos!

Isso que construímos em pouco mais de uns três mil anos, com uma arrancada espetacular a partir do século 17, é algo de inesperado. É impressionante aonde chegamos em 400 anos. Até onde nossa vista alcança na história, nunca se dera um salto dessa dimensão em tão pouco tempo. Nos tornamos de fato uma sociedade global.

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Eu admiro muito o modo jesuíta de fazer contato com os indios. Eles criaram uma gramatica do tupi de modo a ensinar os portugueses a falar tupi e obviamente os tupis a falar português.  Eles deram aos índios um novo grau de entendimento de si e do mundo. O salto da fala para a escrita é ainda mais espantoso que o salto dos ultimos 400 anos. Porque de fato a escrita não é deduzida imediatamente da fala. A gente tem essa impressão porque somos usuarios calejados dessa “ferramenta”. Já nascemos dentro desse esquema que há milenios acumula conhecimento assim, colocando o som em palavras, palavras escritas, palavras que duram.

Os jesuítas estabelecem um meio de comunicação, uma interface com os indios: não só aprendem a lingua como criam um método de ensiná-la e escrevê-la – para os próprios índios!

O alfabeto fonético é um achado genial. A ideia de que aquilo que vc lê é aquilo que você fala (what you see is what you get),  um código aberto e acessível: um código autoevidente/digital que nos iguala,  – em contrapartida ao simbólico/ analógico, que nos separa).

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Isso é o que a internet faz em escala planetária. Ela é uma interface interlinguistica, uma gramatica geral. Mas em ingles – por que é a lingua mais simples hoje disponível? Eu tenho a impressão que sim. Para alguém que vem de uma lingua latina, o ingles as vezes soa muito bruto, com as suas vogais que absurdamente usam outras vogais para se sonorizar. I não é “i” mas “ai”. E por aí vai… Tirando isso o resto é de uma simplicidade magnifica!

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