Notas sobre a Vida

(Eu estou ficando velho. Nada grave. Agora que descobri para que serve a vida, relaxei.)

A vida serve para sensualizar o espírito. A Sensibilidade é um atributo que só se aprende na Vida. E a Sensibilidade é um ingrediente fundamental do Amor. Sem os sentidos, sem essas sensações que nos ancoram no presente, porque o presente é sempre o corpo, o Amor se empobreceria enormemente. O corpo ensina à Eternidade o presente. É pelo corpo, pela matéria, que o espírito experimenta o presente, a sucessão e a finitude.

É próprio da Vida ser egoista e desejosa. Por isso repudio toda teoria, tese, hipótese, pensamento, filosofia que pretenda reformar o homem, abolindo ou simplesmente regulando o egoismo e o desejo. Porque não se pode alterar o que é próprio de algo sem torná-lo outra coisa. Se é sobre o Egoísmo e o Desejo que se sustenta a Vida, acabar com eles seria acabar com a Vida. O ascetismo é um caminho, não a norma. A exceção e não a regra. E não desmereço seu valor: sem um tanto de ascetismo, talvez eu não chegasse a essa conclusão. Ao menos para mim foi preciso me manter senão fora, quase fora do Mundo.

O sentido da vida não é espiritualizar a carne, mas sensibilizar o espirito. Como é uma via de mão dupla de movimento permanente, acaba que dá no mesmo. Mas como são duas expressões, faz diferença qual inicia o movimento. O ímpeto primeiro deve ser esse de deixar que a sensibilidade viva o presente, pois seria uma heresia imaginar Deus desprovido dessa sensibilidade que só existe porque existe o corpo, o presente, o instante, o vermelho, o azul, o amarelo, e sua infinidade de tons e misturas, os sons, oscilando entre o quase silêncio e a sinfonia. É nesse sentido que tudo, absolutamente tudo, é obra de Deus. Obra de Deus e ação da Vida e do Homem.

Se é do espírito que procede a vida, logo a vida é uma necessidade do espírito e não uma degradação dele ou um desvio. Repudio por isso toda teoria, tese, hipótese, pensamento, filosofia dualistas, no sentido de uma oposição fundamental entre dois princípios. Primariedade não significa Primazia. Se Deus se faz Vida, a Vida não pode ser menor que Deus, mas é segunda em relação a Ele – e apenas isso – e ainda assim poque visto daqui, de um ponto de vista da sucessão. Tudo provém de Deus e Deus não pode ser algo menor do que Ele mesmo.

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