Quase um segredo…

É inacreditável. No primeiro momento, você sente a estranheza sem conseguir localizar o que é de fato estranho na paisagem. É o que sobra ou é o que falta nela? É o que falta! Mas o quê? As grades! Um quarteirão inteiro em plena zona sul da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro – sem grades nos prédios! Sim, para onde quer que você olhe, nada de grades. Incrível!

Se para qualquer carioca com menos de 30 anos isso pode ser a visão de um futuro a se alcançar, uma espécie de utopia urbana factível – a retirada de todas as grades dos prédios – para alguém com mais de 50 é sobretudo a volta a um Rio mais tranquilo, mais suburbano, em que se caminha à noite pelas ruas, em que se namora na praia. Aquele quarteirão ficou – firmemente ancorado em sua graça, imune ao tempo, ao medo, ao crescimento.

O que me inibe de dizer o nome da rua é que talvez toda essa beleza – ao mesmo tempo, passado vivo e utopia – se sustente no segredo. Temo que, ao contar o nome, quebre o encanto e então já será preciso grades. Melhor então não dizer nada. Que outros reparem e, discretos, também não digam nada. Porque certamente haverá quem passe por lá sem reparar o óbvio, o óbvio ululante que ninguém costuma enxergar, os cegos para o óbvio, esses distraídos.

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