Às vezes me surpreendo vivendo,
vivendo simplesmente,
sem drama.
É quando me distraio com o vento
– lendo o vento em minha pele: odor, temperatura, direção –
quando me distraio com o calor do sol que contrasta com o vento,
quando me distraio atento aos vagos ruídos da rua, tantos…
Sem drama, sem pressa, seminu, na janela, vivendo.
* * *
Minha vida é banal. Banal ou singelamente ridícula, porque intensa e sem importância: o que tanto me emociona e eu vivo como um drama é, aos olhos de outros e mesmo aos meus próprios olhos lúcidos, auto-engano, ilusão e fraqueza. E, no entanto, e daí? “Não será isso o amor?”, me pergunto, irônico (e cheio de fé, respondo: não será o amor despir-se?).
Gosto de acreditar que às vezes alcanço a grandeza do absurdo, da ausência de um sentido imediato e pronto, do disparate, mas quase sempre não vou muito além da mera inconsistência. Porque assim se passa com todos, não há nisso nenhum mal. A vida vive-me e eu satisfeito deixo-me seguir.
* * *
A pedra ao sol exala um cheiro acre, rude, viril.
A pedra ensina a prontidão, a ríspida prontidão da pedra.
Lindo, lindo, lindo.