Agora que me tornei deserto,
vago no luminoso silêncio das minhas manhãs
em busca da palavra redentora,
oculta na bruta paisagem que me habita.
É preciso cautela: o mal se alimenta de palavras.
Amor é a palavra redentora,
sussurra o vento em meu ouvido.
Mas ela não virá escrita nessas letras gastas
Que tão fácil me fazem tomá-la por outras,
tantas são as palavras que por amor se passam.
Não, a palavra redentora sequer está escrita.
É impronunciável até.
Devo ouvi-la no silêncio luminoso das manhãs desse deserto
onde a solidão veio buscar abrigo.