sonho

Tenho tido sonhos que têm me valido como iluminações – digamos assim, na falta de palavra melhor. Depois pretendo escrever sobre isso, sobre o valor “pedagógico” dos sonhos, mas agora o que quero é registrar a frase que me veio no sonho que tive hoje.

Lembro apenas que estava numa sala com várias pessoas fazendo uma prova de seleção e naquele momento estávamos todos numa fila e cada um na sua vez teria de escrever alguma coisa usando as três palavras ou expressões seguintes: 1) Beach 2) Eu sou Rui Barbosa 2) Ameno e alegre.

Eu vi você mais à frente na fila entregando o seu papel, discreta e silenciosa como é do seu feitio, a tensão ocultada pela beleza, e não me ocorria nada para escrever – mas eu, no íntimo (nesse estranho íntimo próprio dos sonhos que tanto me intriga,  interioridade dentro de outra interioridade que é o sonho) sabia que na hora algo me viria.

E veio! Quando chegou a minha vez eu disse, pensei ou escrevi – porque imediatamente acordei com a frase na cabeça:

“É na praia que eu sou mais eu, anti-Rui Barbosa, ameno e anônimo”.

* * *

O modo como usei as palavras e expressões, acrescentando, omitindo, torcendo, fala tanto de mim que eu chego a rir. Gosto da frase em si – e por isso a publico vaidosamente. Mas também porque, ainda mais vaidosamente, acredito que ela é ao mesmo tempo resposta a uma charada e ele própria  charada. E aí a publico vaidosamente como um convite a que me conheçam e decifrem – mas sem ameaças esfínjicas de devoramento.

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