frente fria

Os dias se esgueiram como gatos, em horas que passam iguais, sem sombras… Sucessão de domingos esquecidos de ser Domingo que se movem sem vontade, envoltos em devaneio.  Úmidos, lentos e preguiçosos, os dias subitamente sucumbem em noites também iguais, sem lua ou estrelas que lhes regulem a passagem. Então é manhã de novo, e assim vamos, como gatos, os dias e eu, sozinho na janela, sonhando, distraído com as nuvens, vestido dessa chuvinha fina que é quase invisível musgo.

Não são tristes esses dias, nem um pouco… São mansos como monges meditando ou gestantes urdindo seus bebês e me convidam a ir vadiamente inventando metáforas que os definam: sonsa vaidade desses dias que me seduzem com seu silêncio cinza. Então lá vou, pavão, escrevendo como quem fala, enebriado das frases que teço com as palavras que me vêm à mão: rimam, irmãs; namoram, fingindo não. E calam de repente, nem poema, nem crônica, nem nada, como esses dias de frente fria na praia vazia…

5 Comentários

  1. Laura, lembrei de um livro, aliás de dois: O Livro dos Seres Imaginários, Borges, e o nosso amado História de Cronópios e famas, de Cortazar. Vou escrever sobre os dois para o Bibliólatras.
    E =), que bom acolher sua alma confortavelmente por aqui… Mas, me diga seu nome…

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