ironias

Comprei uma lupa de um caolho.

E ele o tempo todo repetia que tinha de “ficar de olho” na Guarda Municipal.

Sou encantado por lentes de aumento desde pequeno. Em sua transparência, a lente guarda dois mistérios que fascinam as crianças: é capaz de aproximar o que está longe e transforma luz em fogo. Só isso já é o suficiente para elevar a lente à condição de objeto metafisico. Na verdade, suspeito que as lentes inauguram a filosofia moderna, ao fazerem da luz o objeto definitivo e irrevogável da Física. Quando Galileu apontava sua rudimentar, mas eficiente luneta – cannocchiale, em italiano, palavra linda! – mais do que nos mostrar as luas de Saturno (ou era Jupiter? ) que desmentiam a verdade absoluta do sistema geocêntrico (mas, obviamente, não sua verdade relativa), Galileu nos mostrava algo ainda mais misterioso, exatamente aquilo que encanta a criança ainda sem palavras: a luz é algo, alguma coisa que pode ser contraída por um jogo de lentes! Ou seja, as lentes demonstram que a luz é uma substância. Mas uma substância absolutamente inusitada: imaterial, invisivel, simultânea. Acho que essa foi a matriz principal da física moderna: como abordar uma substância inapreensível nos termos da Fisica tomista. Essa é minha hipótese mais recente que não vê uma ruptura entre o tomismo e o cartesianismo, mas uma passagem de grau obrigatória, imposta pela natureza do seu objeto, a luz.

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