ucrânia: o beijo

UCRANIA_01

O menino corre de mãos dadas com sua mãe. Ela é jovem, forte, e o abraça e enche de beijos. Beijos até na boca! E eles entram e saem do palco para os bastidores, dos bastidores para o palco, correndo, os corpos quentes brilhando de suor e júbilo, e se curvam solenes para agradecer os aplausos que não cessam. Ele é o filho único de um guerreiro cossaco morto em combate, mas dele herdou a espada e o gorro – o que simboliza que a luta continuará. Nunca chegou de fato a saber qual daqueles homens magníficos foi seu pai, mas sua mãe era a única de cabelos negros entre tantas mulheres louríssimas. Em comum, a mesma pele muito, muito branca, branca como nunca vira, sem marcas ou manchas, e a carne dura, delineada e ágil com imaginava seria o corpo dos super-heróis que ele mesmo sonhava ter. Ah! Com aquilo o impressionava! aquela combinação alucinante de beleza e força que não era mediada por língua nenhuma, pois todos falavam o que diziam ser “russo” e se comunicavam com ele por gestos, olhares, sorrisos, mas que eram de uma clareza quase telepática como a que via entre os animais e suas crias. E que contraste com a vida que levava! Sim, ele amava sua mãe verdadeira, mas como queria seguir com aquela outra mãe de fantasia, jovem e forte como uma deusa, e que o beijava na boca. Na boca! O que fazia dele um homem, um homem experiente, o único na sua idade que já beijara na boca. Muitas vezes. Por mulheres diferentes. E todas lindas! Que vida!

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