sem perdão

“Quando olho para o passado e compreendo quanto tempo perdi em vão, quanto perdi com equívocos, com erros, na ociosidade, na inabilidade para viver, como deixei de apreciá-lo, quantas vezes pequei contra meu coração e minha alma, meu coração se põe a sangrar. A vida é uma dádiva, a vida é uma felicidade, cada minuto poderia ser uma eternidade de felicidade.”
F. Dostoievsky

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Estava um dia muito lindo para se ficar triste.
Imaginara que trazer de tão longe o sol para a manhã chuvosa e fria era sua forma espetacular de dizer eu te amo.
Pensara aquecer aquele coração amado, mas não suspeitava o quão fundo o magoara com sua brincadeira de destruir.
Perceber isso ali, deitado sozinho sob o sol que contratara, no parque imenso, seco e vazio no meio da cidade desumana, era algo que lhe doía como se fosse também ele vítima.

Por que fizera exatamente o contrário daquilo que sentia?

Mais uma vez, Iago matara a si mesmo na ânsia de vingar-se de quem amava.
Mais uma vez, Iago aceitara a própria morte em troca de fazer o mal.
Mais uma vez, Iago destruíra tudo.

Mais uma vez, como no fim de um filme de Chaplin, caminhava sozinho pela longa estrada solitária e às margens podres do Tietê ninguém ouviu o choro amargo de um parvo heróico e retumbante.

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