Tem feito dias lindos, dias de maio no inverno de agosto. Há os ipês floridos em variados tons de violeta e umas árvores de que não sei o nome com flores púrpuras (ou, por que não dizer, encarnadas?). O mar anda transparente e calmo e caminhar na areia da praia quase vazia tornou-se um ritual. É como se não fosse eu exatamente a caminhar na areia com as ondas a se entrelaçar como cãezinhos brancos entre meus pés, mas uma entidade milenar que atravessa o tempo: “o homem que caminha à beira-mar pensando”. Camões, Platão, Hopper, Antonio… Claro, distingue-nos a irrelevância da indumentária, detalhe a marcar nossa cômoda concessão aos usos da época. Importa, a nos unir, o que pensamos. Animam-nos (ou não estaríamos caminhando ao pé do mar) as mesmas perguntas – sobre a Beleza, o Amor, o sentido da Vida e do Tempo. Temas maiúsculos que a ínfima figura deve enfrentar com todas as suas limitações e daí ainda extrair alguma verdade que o acalme e possa servir ao outros de legado sob a forma precária das palavras.
A Gaivota paira de súbito sobre nós – a marcar a implacável e soberana contingência de todos os fatos – e num mergulho preciso enterra-se no mar de onde emerge com um peixe! Tem sido assim desde o princípio dos tempos. Haveria então A Resposta que se poderia alcançar depois de um resoluto mergulho nas trevas? Ou a cada um estarão destinadas apenas escorregadias porções de verdade nem sempre fáceis de engolir? Ah, quanto ironia em caminhar na areia se imaginando maior do que se é…
lindo !!!!!!!!!!!
Obrigado, Neysi!
Estive no Rio em julho. Os dias não estavam tão azuis, mesmo assim caminhar na areia foi uma experiência e tanto. Também fiquei observando gaivotas. Gostei de ler sua crônica.
Beijo