Chama-se espatódea a flor vermelha que vi outro dia e não lhe sabia o nome. Tão carnal e tão serena era a espatódea que bem podia tê-la tomado pela flor da árvore do conhecimento. Ah, se fosse… Eu talvez então percorresse o caminho inverso de meu ancestral incauto e, em vez de me perder por seu fruto, reencontrasse na contemplação da flor – porque tão carnal e tão serena – o segredo perdido de ter paz e alegria, gozo e riso, deixando para trás e para sempre o ciúme, o ressentimento, a mágoa de que nenhum amor desde Adão escapa imune.
* * *
Mas não, não é assim.
Tudo tem limite, diz o espírito cansado à carne que sempre esquece quem é e o quanto pode. O espírito sabe, a carne quer. E então acontece: o espírito vê e, não sem tristeza, adverte a carne, obstinada e cega. A carne quer. E, incansável, a tudo se dispõe. Mas o espírito vê e não pode iludir-se. Chora porque é seu dever guiar a carne que não é senão ele mesmo submerso no tempo, mistério da Criação e da Queda. Esconde as lágrimas, porque é hora de partir, de dizer adeus (para sempre) e até breve (porque a morte nos alcançará e não sabemos como será nossa eternidade). Nenhum amor é deste mundo, o espírito sabe. Mas a carne sempre quer realizar aqui, neste mundo, o que soa ser delírio, êxtase ou promessa, segundo a crença que cada um abrace, fruto sempre do que fez do amor que traz, em si, desde sempre, como um fardo ou um presente.
(“Espatódea”, desenho de Paloma Perez)
LINDA ESPATÓDEA…
LINDA ESPATÓDEA …PARABENS.