Com o mesmo cuidado e perseverança com que você pinta um quadro, você foi cultivando as improváveis sementes de lichia que nos sobraram do Natal.
Devagar, mas em magnificos saltos, foi se dando o milagre: do mesmo modo como as linhas vão surgindo sobre o branco da tela, em formas que logo ganham cores, a dura casca da semente se rompeu e dela subiu um delicado fio vegetal que se eleva para o céu com duas folhinhas estiradas, uma para cada lado, como se nos oferecesse um abraço cheio de entusiasmo.
E gratidão? Não sei. Não sei o que te sussurram as plantas quando não estou perto, de manhã, logo cedo, mas a cada vez que você as alimenta, de carinho e água, elas exalam seus olores: manjerição, hortelã, salsa, ou simplesmente exultam, mais brilhosas e firmes, cheirando a verde.
E assim toda a arte que há nos quadros vai transbordando para a vida, minuciosa e quase discreta, porque a nós a quem nós é dado vê-los, a esses quadros cheios de vida, sempre nos faltam palavras para descrever – tanto a eles como ao bem estar que nos provocam. E então sorrimos e nos fica mais fácil o dia.