Veranico

Começaram os melhores dias do ano para quem é carioca: os dias de veranico, calmos e cálidos, que começam agora pelo fim de março e se estendem até meados de maio.

Uma garça brança cruza o céu azul-azul, imaculado de nuvens. Súbita e silenciosa, ela passa rápida como um piscar de olho cúmplice a confirmar minha impressão. A Criação se impõe ao mundo dos homens se temos um corpo que genuinamente sinta o desenrolar da eternidade, esse aparente paradoxo.

A política, a violência, o insegurança, as decepções pessoais, mesmo a nódoa de tristeza que parece inseparável do amor, da fé e da esperança – nada disso é capaz de sobrepujar essa percepção da presença do Criador e de suas hostes em tudo ao redor: não há o que temer. Mas como explicar isso aos que não crêem – ou não crêem o bastante – ou pensam ter motivos para não crer – ou crêem mas não se crêem entre os eleitos? Eleitos somos todos os que crêem, esse outro aparente paradoxo.