24 de dezembro de 2001
Adão e Eva

Era mesmo de se esperar que o Severino da Silva, depois da ousada redação que lhe garantiu uma vaga no curso de Direito da Universidade Estátua de Sal, se interessasse em cursar Letras. Tampouco foi surpresa vê-lo passar com facilidade no vestibular da Universidade Goma Feia.

Acho, aliás, que Severino foi modesto. Doutor honoris causa em Crepusculismo e candidato deste cronista à Academia Brasileira de Letras pela brilhante página em branco que entregou aos examinadores do vestibular de Direito, Severino deveria ter já postulado uma bolsa em pós-graduação.

Que tal uma tese sobre o silêncio em Machado de Assis, tomando como ponto de partida "O Velho Diálogo de Adão e Eva", em Memórias Póstumas de Brás Cubas?
Para quem não lembra, relembro:

CAPÍTULO LV / O VELHO DIÁLOGO DE ADÃO E EVA

Brás Cubas ................................?

Virgília ...............................

Brás Cubas .........................................................................................................

Virgília .............................................!

Brás Cubas .................................

Virgília ....................................................................
..................................................? ........................................

Brás Cubas .........................................................

Virgília .......................................................

Brás Cubas ................................................................................................
................................................... ..................!....................................!....................

Virgília .........................................................?

Brás Cubas ....................................!

Virgília ............................................!


Um desafio a leitores e diagramadores, o diálogo diz tudo, sem dizer nada. Ensina que, no amor, a ênfase é o que conta. Porque o amor, além de cego, é ligeiramente surdo e, em seu entusiasmo, mal ouve as palavras que o outro fala, só as ênfases.

Um enfático feliz natal, aliás, é o que desejo a todos. Que o Natal não seja um ritual meramente tedioso e que entre rabanadas e beijos, salvemo-nos todos, com muito humor e compaixão.