“Para quem acompanha os desfiles das escolas de samba,o fato mais importante deste ano não foi algo ocorrido na Marquês de SApucaí, e sim na Cidade do Samba, onde ficam os barracões das escolas do Grupo Especial.
Foi o primeiro carnaval em que tudo se fez lá, e o resultado foram alegorias impressionantes, tanto nos dispositivos tecnológicos como no acabamento artesanal. E o mais incrível: nenhuma delas quebrou. Houve só falhas menores e um incêncido na rua, após o desfile, por causa do choque de um carro da Grande Rio com fios de alta tensão.
Essa sofisticação é o coroamento de uma relação que não tem nada de ultramoderno. Na verdad, tem a idade do Brasil.: os negóciso feitos entre os que supostamente cuidam do interesse público e os que supostamente burlam esse interesse.
A Cidade do Samba custou R$108 milhões à Prefeitura do REio e é totalmente controlada pelos bicheiros da Liga Independente das Escolas de Samba. Em troca, o prefeito Cesar Maia ganhou um busto no local e tem seu nome exaltado por dirigentes e puxadores de samba.
Enquanto Maia gosta de aparecer empurrando alegorias ou varrendo o chão, os contraventores -que nesta época não são chamados assim na televisão- andam com altiovez no meio da passarela, distribuindo acenos e dando autorizações para que entrem na pista seus amigos e mulheres de remota profissão que os acompanham.
Nada mais carnavalesco do que essa inversão de papéis, acrescida do paradoxo de que, do ponto de vista da gestão do espetáculo, quem modernizou o desfile foram os bicheiros. Mas os recursos para o Sambódromo e para muitos mais saíram do erário. No Brasil, onde nada é para todos, vale o escrito: o investimento é público, e o lucro é privado. Sem impostos ou prestação de contas.”
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