O impasse de Hamlet é permanente: deixar durar ou interromper? Seguir ou desviar? Deixar fluir ou cortar?
Releio o monólogo e, até à próxima leitura, me parece que Shakespeare/ Hamlet não tem dúvidas quanto à continuidade do ser depois da morte. O que lhe impede o suicídio é a incerteza quanto ao que virá depois: será melhor, será pior? E que relação a vida guarda com o que virá depois? Houvesse a certeza de que a morte é mesmo o fim definitivo, não haveria relutâncias – e as pessoas talvez se tornasse boas por medo da solidão ou da falta de empregados – por egoísmo, enfim – ou como sempre.
Do mesmo modo, houvesse a certeza do esquecimento do que abdicamos quando escolhemos um caminho em detrimento de outro, mudanças ou continuidades seriam fáceis. Pois logo perderíamos a noção do que foi deixado para trás e viveríamos num presente sem arrependimentos ou remorsos. Um presente mais pobre, pela ausência do passado e sobreutdo sem a possibilidade da memória nos enriquecer a percepção do presente.