Estava lendo no “Wall Street Journal” a saga do desaparecimento do Bear Stearns, um banco tradicionalíssimo, o quarto ou quinto do mercado americano. Foi literalmente uma batalha, com centenas de pessoas numa movimentação frenética e insone involvendo bilhões de dólares e onde se misturavam e atritavam motivações diversas: do lado do Fed, o sincero desejo de minimizar os custo não só americanos, mas mundiais, da crise; do lado do Bear Stearns, uma luta inútil e por isso desesperada para se manter vivo; e da parte do JP Morgan, o desejo justo de realizar o melhor negócio possível.
Não é a primeira vez que o Morgan é chamado para “salvar” o mercado financeiro americano de uma crise de proporções monumentais. No começo do século 20, J.P. Morgan em pessoa fez o papel de um Banco Central a pedido do governo americano, saneando o mercado financeiro ameaçado de ruptura.
Claro, isso significa lucro e poder – o que, por mais mesquinho que possa parecer, não é de modo algum injusto. Todos querem ser reconhecidos e remunerados pelo que fazem. Quando se trata de banqueiros e governos as cifras alcançam bilhões, essa a diferença.
O que impressiona nesses momentos de crise e quase não é comentado, é que se trata de uma oportunidade única dos banqueiros exercerem entre eles uma das nossas práticas ancestrais mais lamentadamente reprimidas: o canibalismo.
Dizer que crises são também uma oportunidade para bons negócios é um lugar-comum que esconde ações cuja única finalidade é destruir os rivais mais fracos. Nenhuma solidariedade, portanto. Quando o Bear Stearns lutava para tentar se erguer ou simplesmente se arrastar por mais um mês, os fundos com pouco ou nenhum investimento no BS passaram a espalhar boatos ainda mais negativos sobre a situação do banco, conta a matéria do WSJ.
Isso serve para dar só uma tímida noção do que deve estar sendo a guerra subterrânea entre esses bancos neste exato momento. Fico daqui imaginando Tom Wolfe, do imperdível “Fogueira de vaidades”, tentand tomar fôlego para um romance sobre esse verdadeiro épico moderno, violentísismo e silencioso onde estão em jogo instituições quase centenárias e sobretudo a poupança – ou melhor, a esperança – de milhões de cidadãos anônimos do mundo inteiro.
Ou seja, nós. O que podemos fazer neste momento? Nada. No nosso caso espécifico de brasileiros em tempos de Lula, ficar ainda mais quietos, de olho em seus bancos, principalmente os internacionais. E manter a calma. O que vai aparecer de notícia desencontrada cujo único fim é produzir pânico e levar as pessoas comuns ao prejuízo, não vai ser brincadeira.
Calma. Um crise dessas pode ser um bom momento para comprar ações de primeira linha e esquecê-las por cinco ou seis anos, por exemplo, acho eu.
Mas acredito que seja principalmente um tempo em que não se deve gastar. Reserva prudente é a palavra-chave. Quanto menos despesas assumidas, mais fácil é suportar um aperto no crédito.
Liiiiiiiiiiiiiiiindo!!!!!!