O “nervosismo” do mercado

Continuo lendo sobre a crise financeira e discordando de muita coisa. Intuitivamente, claro, porque meu desconhecimento de teoria econômica e dos procedimentos do sistema financeiro americano são totais.

Mas, por exemplo, dizer que a atuação do Fed foi “nervosa” ou que o mercado está “nervoso” ou qualquer uso que se faça do termo “nervoso” me parece um comentário digno do Galvão Bueno. Nervoso, é claro, o mercado sempre está, especialmente numa situação excepcional, quando centenas de bilhões de dólares correm de um lado para outro e instituições quase centenárias mudam de mãos por ninharias. É hora, de grandes negócios. Imagino que os operadores saiam a campo nesses dias como guerreiros pré-históricos, loucos para arrancarem o coração uns dos outros e comê-lo cru e ainda quente. Então “nervoso” coom se se tratasse de um bando de senhoras melindrosas e surpresas com os acontecimentos me parece papo de amador.

Também não me parece “nervosa”, no sentido de “precipitada”, a decisão do Fed de liquidar o Bear Stearns no fim de semana, inclusive antecipando um corte nos juros interbancários. Devia ser o quê, “fleugmático” para aparentar frieza e indiferença? Ao contrário, acho que o Fed agiu com severidade e precisão. Para que esperar “até terça-feira”, hoje, quando haverá a reunião regular da diretoria do banco, para cortar os juros se isos já seria esperado? Imagino que o Fede tenha agido como mediador para evitar uma “carnificina interbancária”, com os mais fortes ajudando os mais fracos a… morrer! O Bear Stearns foi reduzido a pó num fim de semana, mas seus correntistas foram poupados. Acho que o recado é óbvio: o Fed não está para brincadeiras especulativas.

Outro papo que não agüento é essa coversa mole de que o Fed está usando ‘dinheiro do contribuinte” para salvar banqueiros. É uma verdade parcial, porque o ‘dinheiro do contribuinte” está sendo usado sob a forma de empréstimos de curto prazo a juros que nem sequer são baixos. Empréstimos que obviamente terão de ser pagos. Tenho inclusive a impressão que o corte dos juros básicos está também relacionado aos juros cobrados nesses empréstimos. Os juros básicos devem ser a referência para esses juros de curto prazo. Logo, se os juros básicos forem muito altos…

Há uma disputa “eterna” entre liberais e intervencionistas, e o presidente do Fed parece tentar se colocar a meio caminho entre um e outro, o que está lhe valendo críticas dos dois lados.

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