A reinvenção do feriado

Nunca uma eleição se pareceu tanto com o embate entre o bem e o mal. Mas o cinema ensina que o Bem até pode perder de pouco para o Mal, mas quando vence tem de ser de goleada. A candidatura de Gabeira foi o mais ousado experimento político feito no Brasil – e quem sabe no mundo. É a primeira vez que uma campanha se constrói sem dinheiro público ou máquina partidária, apóiada em voluntarismo e doações; abre mão do meio impresso e usa intensiva a internet; e orienta-se rigorosamente por duas premissas positivas e simples: não sujar a cidade, não se antagonizar com o adversário. Que ao final, Gabeira tenha conseguido metade da cidade demonstra que o experimento foi bem sucedido e projeta um modelo a ser adotado. Pois, fica demonstrado que é possível, sim, fazer política no sentido grego do termo: é possível fazer política sem se sujar. O único cuidado é não inventar a coisa mais antiGabeira do mundo que seria o Gabeirismo. A hora é dessa galera motivada que construiu a campanha do Gabeira entrar na polítca e começar a preparar as suas candidaturas e de outros para as próximas eleições estaduais e as municpais seguintes.

A gente se acostumou a falar “nós” sem nunca saber exatamente de que tamanho éramos. Gabeira nos deu um senso de medida. A mim, ao menos, surpreendeu: não sabia que podíamos ser tantos. E “eles” também nunca estiveram tão nítidos. Fizeram de tudo para ganhar. Violência, intimidação, mentiras – mas um fato é absolutamente inédito: nunca antes ousara-se decretar feriado com a intenção explícita de esvaziar uma eleição. E ação não foi de um general ditador que tivesse tomado o poder pela força e agora teme-se o voto popular, mas por um governador eleito – e que, desse modo, garantiu seu nome para a História da República. Nunca antes se descera tanto. Realmente o Brasil está se tornando especialista em prospecção em águas profundas.

Conseguiram avacalhar até com o feriado! Aliás, nem feriado era: era ponto facultativo. O ponto facultativo, como o nome indica, e o feriado sempre estiveram (repare no tempo passado…) revestidos de uma aura de canalhice ingênua – tipo bigodinho fino e cadeiras pé-de-palito. Acabou-se. O governador profissionalizou a canalhice do feriado

E o mais fantástico é que tal recurso além de não contar com o menor sinal de desaprovação pela Justiça ainda capturou milhares de funcionários públicos em sua armadilha. É como se tivessem dito: “Ah! Quer dizer então que os senhores funcionários públicos querem votar contra a máquina? Esqueceram quem são? Pois eu vou lembrá-los quem são da maneira mais doce: vou lhes antecipar o feriado e assim vocês terão um pretexto para não traírem a si mesmos”.

Mas uma metade da cidade se descobriu Gabeira. Em menos de dois anos, aposto que metade da outra metade estará arrependida do voto. Tampouco duvido que nesse meio tempo, até o prefeito eleito acabe – de novo! – Gabeira também.

9 Comentários

  1. muitíssimo obrigada pela sua visita em meu blog, nossa, que honra!!!será que podemos trocar links? posso ter o prazer de colocar o link de seu blog em “meus preferidos”?? vc aceita? e se quiser pode colocar o meu link ae.Abraços! 🙂

  2. poxa, nao posso deixar de elogiar a citação sobre as definições de ignorância e burrice, simplesmente adorei, pois acabei de ser vítima de um “burro” agora há pouco, fui vítima de um preconceituoso que ofendeu minha religião (a wicca) sem ao menos saber o que era antes de falar e lendo agora o texto lá, da diferença entre ignorantes e burros, putz, foi perfeito!!! me senti com a alma lavada, rsrs

  3. Paulo, eu acho q entre outras coisas o Gabeira projeta tb uma reforma política que valoriza o poder municipal e diminui o pode estadual. Acho q o Gabeira é um fenômeno não só municipal como tb municipalizante. Só nesse sentido eu entenderia uma candidatura dele governador.

  4. Marie, eu acho que o Gabeira foi uma “experiência científica” muito bem sucedida que agora projeta um modelo de fazer política que precisa ser desenvolvido, ampliado. Eu não gosto dessa idéia de que o povo vota errado. Nem tampouco flerto com a idéia de que ele seja sábio. Pq, afinal, quem é o povo? Eu diria que quanto mais miserável é sujeito mais imeediata é a sua necessidade e aí, óbvio, mais imediatista é o seu voto: ela vai trocá-lo por um prato de comida, uma emprego, enfim… Essa relação entre voto e miséria é q, por outro lado, acaba perpetuando a própria miséria. Ou criando o miserável profissional, o “feitor carinhoso” que administra com mão de ferro e luvas de pelica os currais eleitorais de quem paga melhor. O Reinaldo Azevedo está com um text obrilhante sobre a relação q a esquerda mantém com pobres, pretos, gays, mulheres e outras minorias? http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/051108/p_078.shtmlEnfim, até onde (em termos de desenvolvimento) a esquerda – e o populismo em geral pode ir – sem perder a tutela dos miseráveis? O pânico do PT hj é q “o povo” está “se aburguesando”: começa a ter bens, começa a acreditar na “propriedade privada”. Pois é, como mantê-los puros? A esperança dels recai toda na “deseducação pública”. Mesm assim, a vida segue desmentindo-os. E aí, como vai ser? Esses jovens quando ficarem mais velhos largarão para trás toda a tolice q aprenderam ou vã tentar fazer o mundo caber na versão marxista que lhes impuseram?

  5. Olha, Antonio, eu acho que o problema será encontrar outro candidato do estilo do Gabeira. Ele é único, creio. Quando eu brincava com ele em meu blogue que a grande virtude dele era não ganhar qualquer eleição majoritária naturalmente era uma ironia, porque eu acho que o “povo” e a “pova” tendem a votar errado (e não só aqui… eu sou McCain nos Estados Unidos e não abro :)) Eu só espero de verdade que tenhamos outros Gabeiras. Pra mim ainda está pra nascer outro. Um grande beijo, querido.

  6. Oi, Roney! Admito que não acompanhei essas elições muito de perto, por isso só me dei conta do feriado na reta final. Mas não vi uma repercussão do tipo da alcançada pelo papo do Gabeira no telefone em que ele usou o termo “suburbano”. Vc sabe dizer se o TRE chegou a se manifestar? E os jornais? Acho q uma alternativa era criar um abaixo-assinado virtual exigindo do TSE que crie a Lei anti-Cabral que proíbe a manipulação das datas imeditamente anteriores e posteriores ao dia da eleição. Seria um “prêmio inesquecível” ao governador!

  7. Muita gente chegou a reclamar… Talvez milhares no Twitter e não menos em seus blogs, mas dessa vez a força da Internet não bastou para mover a justiça…Aliás, atualmente a Internet move pessoas e se defende da justiça, não acha? Vejo nós internautas como uma contra-cultura, quase revolucionários perseguidos não por armas, mas por processos…Mudar o feriado foi uma manobra suja como todas as outras e mais aviltante pela falta de respeito com a máquina pública que deve servir ao público e não a “amigos” políticos, mas… Ninguém era obrigado a esticar o final de semana!Provavelmente o Gabeira teria sido eleito se tantos eleitores não tivessem se omitido, mas não responsabilizo Cabral e EPa pela omissão, entende?Os 4 anos que nem começaram, mas já foram emoldurados com quebras de promessa talvez sirvam de aprendizado para os omissos e nas próximas eleições eles pensem duas vezes antes de aceitarem ser cúmplices.

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