sobre a dor e o prazer

A dor e o prazer podem ser sensações mais próximas do que se pensava até agora, revelou um estudo realizado pelo Hospital Geral de Massachusetts, nos Estados Unidos.   O dr. David Borsook e sua equipe descobriram que as duas sensações ativam os mesmos circuitos no cérebro – o que sugere que as respostas à dor e ao prazer sejam similares

A descoberta pode abrir o caminho para a melhoria do tratamento da dor e também aumenta a compreensão de como o cérebro funciona, disse o especialista, acrescentando que o estudo pode oferecer ainda uma forma objetiva de medir uma sensação intensamente pessoal. “A dor não é só uma experiência sensorial, mas é também uma experiência emocional”, disse Borsook. “É essa experiência emocional que tem sido difícil de ser capturada ou definida. Ao definir esse circuito, acreditamos que, agora, estamos numa posição de compreender o que é o maior problema em um paciente crônico, e isso é sua reação emocional à dor”, acrescentou. “Ele fica ansioso, não come bem, fica deprimido e, até mesmo, apresenta tendências suicidas”.

Borsook e sua equipe usaram uma tecnologia que permite aos cientistas ver o cérebro em ação. Eles obtiveram imagens funcionais dos cérebros de oito jovens saudáveis, do sexo masculino, enquanto realizavam vários testes. Em um desses testes, uma pequena chapa aquecida foi amarrada às mãos dos voluntários. Os pesquisadores aqueceram inicialmente de forma moderada e agradável e, posteriormente, a uma temperatura que causasse incômodo e dor.

As temperaturas que causam dor ativaram não apenas as áreas tradicionalmente associadas a esse fenômeno no cérebro, mas também as áreas que anteriormente eram consideradas pontos envolvidos na ativação de um circuito de ” recompensa”, disseram os cientistas em um relato de sua experiência, publicado na edição desta semana da revista Neuron.

Em algumas das estruturas associadas à recompensa – áreas conhecidas por serem ativadas por alimentos, dinheiro e, também, por drogas como a cocaína – foram detectados diferentes padrões. Houve também uma variação na resposta ao longo do tempo. “Há dois sistemas no cérebro que jamais foram associados no passado, e essa foi a primeira vez que vimos algo adverso ativando essas estruturas de recompensa”, disse Lino Becerra, que participou da realização do estudo.

Borsook afirmou, por sua vez, que algo mais complexo do que uma simples resposta positiva ou negativa pode estar ocorrendo. “Pode ser que esses circuitos, anteriormente descritos como estruturas que lidam com a recompensa, sejam aqueles que analisam os estímulos e julgam quais são importantes para a sobrevivência”, declarou o chefe da pesquisa. “Eu espero que esses resultados nos ajudem a entender como a dor crônica produz mudanças nos cérebros dos pacientes. Por exemplo, muitos pacientes com dores crônicas relatam que não conseguem ter nenhuma experiência agradável… Essa interação de sistemas no cérebro pode explicar, também, por que pacientes podem tomar certas drogas para aliviar a dor sem se tornarem viciados”, acrescentou.

Borsook, que estuda dores crônicas há 15 anos, disse que um dos maiores problemas no tratamento desse fenômeno é que os médicos não têm, para muitas dessas condições, o equivalente a um antibiótico, com o qual se possa testar a sensibilidade e até curar o paciente.

O novo estudo, segundo o especialista, pode também ajudar no desenvolvimento de remédios mais eficazes contra a dor. “As atuais terapias são essencialmente baseadas no folclore – drogas e aspirinas”, disse. “Nós nem mesmo sabemos como eles funcionam”.

As descobertas, ainda segundo o especialista, podem também explicar a incomum resposta dos masoquistas à dor, embora ressaltasse que esse não era seu objetivo na pesquisa. “Claramente, se o sadismo e o masoquismo representam algo no continuum recompensa-aversão, uma hipótese sugere que, talvez, os circuitos foram modificados para que um estímulo que normalmente causaria aversão seja percebido como uma recompensa”, concluiu.

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