Me dou conta que os apartamentos do prédio em frente nunca tomaram sol. Pessoas foram criadas, nasceram, cresceram, morreram sem jamais ter visto o sol na janela do seu quarto. Eu preciso de sol, de luz, de claridade.
Uma coisa que aprendi na meditação vipassana que goenka me ensinou foi que qualquer caminho passa pelo corpo, porque o corpo é o presente. Isso me ensinou a ser mais literal, mais realista, ainda mais imanentista, que palavra terrível… Os textos sagrados não são metáforas, são descrições de realidades a serem alcançadas – como um diário de viagem ou um mapa.
Acho muito engraçado quando alguém me diz – como se fosse uma prova da superioridade de Buda sobre Cristo – “Ele nunca disse que era Deus”. Me parece tão óbvio que Buda e Cristo sabiam quem eram. Então se Buda me diz que ele é o Homem Iluminado, eu acredito. Se Cristo me diz que ele é Deus feito homem, eu acredito. E como homem tento entender o que eles estão me dizendo com isso.
Lido literalmente, o Cristianismo é de um sensualismo às vezes selvagem, “que teu sim seja sim e tem seja não”. (De certo modo, foi o sensualismo cristão que acabou me levando para a meditação e quando goenka começou a insistir simplesmente: “observe as sensações” – tudo ficou muito claro, digamos assim. Todo o foco sobre o presente é, em ultima análise, estar atento às sensações do corpo. Óbvio, não? E isso é Vipassana. A qualidade e a ambição espirituais de cada sujeito vão determinar o quanto ele avançará por esse caminho.
Porque uma vez que o sujeito avança na experiência da meditação, ele ganha também uma intimidade consigo mesmo, com suas sensações, ele as observa com se fossem informações pedindo sua atenção, como crianças querendo descrever o que vêem: ouvi-las é o melhor modo de sossegá-las. Chegar a algo assim é o ponto de partida do que me parece seria a experiência mística – seja ela cristã, budista, islâmica, judaica, taoísta, etc.
Obrigado, Lindalva.
adoro seus escritos , tão bonitos , profundos e ao mesmo tempo simples , obrigado por escrever com tanta displicência