Desconocemos los designios del universo, pero sabemos que razonar con lucidez y obrar con justicia es ayudar a esos designios, que no nos serán revelados.
Jorge Luis Borges
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Encontrei a frase de Borges no FaceB de minha amiga Laura. Comentei que em três frases elegantes, Borges destrói dúzias de tratados relativistas que tentam reduzir a Ética a um acordo cavaleiresco entre bucaneiros.
Entendo que Borges de cara nos mostra o que alguns insistem em fingir que não vêem: a existência de uma Ética natural. Não sei se será correto usar o termo aqui, mas vá lá: uma ética imanente à consciência, que lhe é própria, que lhe está á flor da pele e que, portanto, é irrecusável ou, ao menos, impossível de ser negada – a não ser, claro, por deliberada vontade de negar. O “poder infinito de negar” de que falava Descartes.
Essa “consciência natural” do que seja o bem é uma espécie de conexão com a totalidade, um indicio, ou melhor, uma forte intuição, de que existe um fim, um sentido no universo, que eu estou conectado a ele, ainda que “naturalmente” não possa compreendê-lo. Esse sentido “não nos será revelado”? Não sei, mas Borges não nos concede sequer o “benefício da dúvida”. Há, portanto, em sua “Ética natural” uma espécie de estoicismo que mistura fé e ceticismo ao, por um lado, afirmar o sentido do mundo como algo inclusive parcialmente acessível aos homens, mas, por outro lado, negar que a comunicação desse sentid possa ser total. Ou seja, todo aquele que a propale será certamente um impostor.
Resta-nos uma “porta estreita”: acreditar que é, sim, possível um contato – pessoal, intransferível e incomunicável – com a Totalidade. Terá Borges o alcançado?
Enfim, como afirma Wittgenstein em seu Tratactus, há o Místico, mas dele nada se pode dizer que faça verdadeiramente sentido – a não ser contrassensos e tautologias.
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Falei em tautologia associado ao Místico e lembrei que Deus se apresenta a Moisés como “Eu sou o que sou”. Clique aqui para ler mais detalhadamente sobre os nomes de Deus – um tema, aliás, muito caro a Borges.