(A propósito deste post de Reinaldo Azevedo: clique para ler)
Só não creio nesse “automatismo”, nessa fatalidade fácil: cai Mubarak e então toda sociedade egípcia se converte em islâmicos fanáticos, loucos para serem controlados pela Irmandade Muçulmana, destruir Israel e toda a agenda do terrorismo islâmico. Acredito firmemente que a maioria que quer a mudança do regime deseja algo muito mais proximo de um parlamentarismo europeu do que uma teocracia iraniana.
Eu duvido que o Egito seja majoritariamente anti Israel. As vantagens que 30 anos de paz trouxeram certamente afetaram uma margem significativa dos cidadãos que, por isso, é óbvio as desejarão manter. Há uma distância enorme entre ser anti Mubarak e anti Israel.
Uma ditadura pessoal de 30 anos se desgasta a um nível que consegue tornar-se uma unanimidade negativa: ninguém gosta. Os níveis de corrupção e ineficiência do Estado (pq toda ditadura TEM DE manter um Estado gigantesco dedicado ao controle) associados sempre a impostos elevados beiram o moralmente inacreditável. Um conto de fadas imoral.
(Um parenteses: a ditadura dos militares no Brasil nunca foi pessoal. Não havia um ditador, mas um regime ditadorial. Era a institucionalização do estado de sitio, talvez. Mas essa é uma caracteristica rara e interessante: era um “despotismo esclarecido”, um modelo, digamos assim, “espartano”. E, se comparado aos dias de hoje, de corrupção hedonista, era uma corrupção estóica)
Enfim, no Egito duvido que sejam todos muçulmanos da Irmandade. Entidades clandestinas funcionam em um esquema bem enxuto justamente para manter a eficiência. Sua grande arma na verdade é o boca a boca – o ministério da propaganda. Isso, numa sociedade, sim, altamente teocentrica onde certamente o ensino deve ser dominado pela religião, é uma vantagem. Não nos é estranho. Da mesma forma que o “pensamento de esquerda”, minoritário na sociedade, domina as escolas em todos os níveis, não me parece estranho que a Irmandade Muçulmana domine esse meio.
E é preciso que a gente entenda que a tradiçao muçulmana da sharia torna qualquer sociedade islâmica rigorosamente controlada onde todos vigiam todos.
Quero dizer que há já um espirito ditatorial, de controle rígido, embutido nas sociedades teocêntricas (para não dizer teocráticas, para assim fazer diferença entre um espírito de grupo e um regime de fato. Claro teocracias são os “regimes ideais” de sociedades teocêntricas). E, finalmente: ser antiteocrático não significa ser anti teocêntrico. Quero dizer, posso ter Deus como centro e preferir uma sociedade mais permissiva e, portanto, mais livre.
Comento eu meu pr´óprio post meses depois: tudo indica que eu estou errado.