A introspecção dos personagens e a captação da luz me lembram Hopper, mas a técnica é outra, talvez se pudesse dizer oposta. As longas pinceladas de Hopper contrastam com o minucioso pontilhismo de Seurat, escolhas que produzem resultados diversos, talvez associados ao temperamento de cada um, não sei. Há uma dureza estóica em Hopper que é muito americana, em contraste com a delicadeza de Seurat, que beira a melancolia, imersa em azuis que são o oposto dos exuberantes amarelos de Hopper.
Seurat morreu muito cedo e sua obra me parece desigual, ainda que guarde essa unidade de temperamento. Ele certamente ainda experimentava caminhos, buscava, se buscava. Esse quadro está entre os meus favoritos exatamente por possuir aquela densidade introspectiva – eu talvez devesse dizer “literária” – que eu tanto aprecio em Hopper. [Leia mais sobre o quadro aqui]