De Jean Lauand, neste curto artigo que atende pelo delicioso título: Tom Jobim e Tomás de Aquino – nota sobre a participatio (os negritos são meus):
“A Filosofia da Arte de S. Tomás de Aquino – como aliás toda o seu pensamento – repousa sobre um conceito fundamental: o de participação (participatio). Participar, em sentido transcendente, é ter em oposição a ser; participa, o que tem algo pelo contato com o que é. O metal, compara Tomás, tem calor na medida em que se aproxima, participa, do calor que é no fogo.
Assim, a Criação é o ato no qual é dado o ser em participação.
Portanto, tudo que é, é bom; participa do Bem.
Nesse enquadramento, situa-se uma sentença de Tomás que é uma das chaves para sua Filosofia da Arte: “Assim como o bem criado é certa semelhança e participação do Bem Incriado, assim também a consecução de um bem criado é também certa semelhança e participação da felicidade definitiva” (De Malo 5, 1 ad 5).
No pensamento de Tomás, a contemplação -também a propiciada pela arte- é a forma mais profunda de “consecução de um bem criado”, prefiguração da Glória definitiva.
Tais considerações, desenvolvidas com todo o rigor do pensamento filosófico, estão também ao alcance da intuição do conhecimento comum. Aliás, por mais difícil que seja a filosofia de Tomás, ela nada mais é do que a estruturação nessa clave rigorosa do que já era sabido (talvez um tanto inconscientemente) pelo bom senso do homem da rua. Por isso, não chega a ser de todo surpreendente o depoimento, imensamente profundo, de Tom Jobim sobre a criação artística em recente entrevista quando foi contemplado nos EUA com a mais alta distinção com que pode ser premiado um compositor, o Hall of Fame :
“Glória? A glória é de Deus e não da pessoa. Você pode até participar dela quando faz um samba de manhã”.
E complementa:
“Glória são os peixes do mar, é mulher andando na praia, é fazer um samba de manhã”.
E aí temos todo o núcleo essencial da filosofia da arte de S. Tomás.”