Ontem à noite, por acaso, descobri que hoje faz 430 anos da morte de Santa Teresa D’Ávila. Desenvolvi por ela uma discreta devoção, brotada menos do conhecimento de sua biografia e de suas obras, e mais do silêncio colorido por vitrais a que me recolho em sua igrejinha tão austera e delicada, exatamente como a imagino.
Sou devoto de São Jorge, mas me encantei por Santa Teresa porque ela é uma santa muito humana, muito próxima de nós. A sensação que tenho é de que quase posso tocá-la de tão carnal. São Jorge é quase um anjo para mim, um espírito forte, poderoso, uma encarnação de São Miguel (isso na minha particularíssima hagiologia!). Já Santa Teresa é como uma amiga – alguém infinitamente superior a mim espiritualmente e, ao mesmo tempo, tão carnal quanto eu, com uma biografia definida, uma vida cotidiana. É como se ela pudesse compreender com mais facilidade esses assuntos mundanos que nos afligem: as coisas do amor, as tentações da carne, as vacilações do espírito.
Então eu me sinto naquela igrejinha em que quase ninguém vai – ainda mais de manhã cedo em dia de semana – como se estivéssemos os dois lá, juntos, em silêncio – e o silêncio da santa fosse o meu refúgio, o meu consolo, o meu aconchego. Um silêncio quase tão carnal como um abraço.