A casa, nova

Uma casa é primeiro a cor das paredes, a disposição dos móveis, os objetos que a distinguem e contam uma história em quadros, fotos, livros. Depois, é a paisagem que divisamos das janelas, os ritmos do céu e do sol atravessando os cômodos com sua luz e suas sombras.

Finalmente, uma casa são seus ruídos, isso que mais lentamente aprendemos: a voz dos vizinhos, o canto dos pássaros, o latido dos cães, o choro dos bebês, a alegria das crianças quando se juntam, o jeito da chuva dedilhar nos telhados e nas poças; o som das coisas que se animam quando o vento entra pela janela, o ligar e desligar dos interruptores, o ronronar dos ventiladores, teus passos indo e vindo – e sei quando estás descalça…

O que há de mais íntimo numa casa são seus ruídos, acho eu, essas singelas imaterialidades que nos chegam sem querer e que acolhemos a despeito da vontade – com indiferença, cumplicidade e, às vezes, até irritação.

Tenho reparado que sinto falta disso que chamamos de ruído mais até do que de música. Claro, nada se compara a Bill Evans, mas vai que Bill Evans é o que no céu chamam de ruído e nem sabemos?

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