Minhas plantas

Eu amo minhas plantas sem delas nada esperar e elas de mim esperam muito pouco. Água e umas poucas palavras. Só. Basta-lhes. No mais, buscam o sol como eu a Deus e vamos juntos em nossa fé que no essencial coincide.

Agora minha orquídea menor deu flores – pela primeira vez em dois anos. Uma multidão de flores, cinco, seis, sete… sei lá, um monte. Estamos numa felicidade eu e ela só compreensível por almas predominantemente vegetativas.

Eis um ponto em que se São Tomás tivesse mais tempo, talvez concordasse comigo: no Paraíso – o nome físico da eternidade – éramos como plantas: nos alimentávamos de sol, de água, de ar – e se comíamos era por prazer estético e não por necessidade.

Veio o pecado, e com ele o tempo, o trabalho, a morte.

Perdemos a eternidade que é um estado da alma onde a paz se junta com a alegria e tudo se entende sem esforço porque estamos com Deus e O adoramos, não como servos, mas como estetas.

Mas com o pecado, tivemos que engavetar nossa alma vegetativa e dar tratos ao espírito desencaixado do corpo para desenvolver isso que o Doutor Angélico chamou de alma racional, essa capacidade nossa de entender devagar e fazer contas, e medir, medir, medir…

Nisso prefiro minha pequena orquídea que mal cabe em si de tantas flores. Se calculasse talvez só me desse uma e ainda era capaz de me cobrar a visitação. É uma desmedida, dirão talvez os austríacos – e eu digo: tem fé.