Sobre a fé

“Havia, não longe dali, uma grande manada de porcos que pastava. Os demônios imploraram a Jesus: Se nos expulsas, envia-nos para aquela manada de porcos. Ide, disse-lhes. Eles saíram e entraram nos porcos. Nesse instante toda a manada se precipitou pelo declive escarpado para o lago, e morreu nas águas” (Mateus, 8, 30-32).

Jesus atende a quem tem fé. Os milagres se sucedem. Os visíveis – cegos v?em, paralíticos andam, surdos ouvem, mortos ressuscitam – e os invisíveis – pecados são perdoados. “Tua fé te salvou”, é sempre o que diz Jesus a cada milagre. Até os demônios são atendidos. Porque têm fé. Uma fé negativa, digamos assim, fundada exclusivamente no reconhecimento do poder de Deus. Do Seu poder, e não do Seu amor. E por isso odeiam à Deus, porque recusam seu amor, mas temem seu poder. Ou, talvez melhor: porque o mal não vê no amor senão uma forma de poder? Não sei…

E o que quer o mal? É estranho… O mal não quer o perdão, mas o esquecimento. O esquecimento divino que equivale à completa extinção, a não ter existido. Os demônios se atiram do precipício e morrem nas águas do lago. Estariam confinados neste mundo, como que aprisionados num corpo humano, que eles lutavam para conduzir ao suicídio, mas que a eles resistia, tamanha é a força da vida em nós? Não sei, não sei; apenas conjecturo, em voz alta, entre amigos.