Meu filho,
a última vez que fui moderno
foi no tempo do ieieiê.
Depois disso, fui só louco,
louco, louco, louco:
louco de pedra, louco de flor.
Louco sem tirar nem por.
Desses de quem dizem os amigos:
“Coitado…”
– e mandam ao bar comprar cervejas e cigarros,
já com o dinheiro contado na mão.
Pois eram tantos eus
que me calavam de espanto
por detrás dos olhos rútilos,
que ao passar as velhinhas se persignavam,
imaginando o filho dileto de Deus.
E assim correu a eternidade que me coube…
Não houve bem nem fim nem cura:
um dia, se cansou de mim
a loucura e eu dela
nem senti falta:
virei de repente
um rapaz muito manso,
um anjo de pijama,
que com cuidado amava
as mais bonitas moças desvalidas
e a elas dedicava poemas de princesa.
E lia, lia, lia –
sem estardalhaço nem cansaço –
tudo em que encontrasse um coração pulsando…
E nem me dei conta de que fui ficando velho,
os cabelos passando de castanhos a cinzas e depois brancos,
as calças que já não cabiam,
as camisas que encardiam,
e eu de fato me achando cada vez mais moço,
o corpo com a alma tão confundidos,
que enfim entendi porque se diz que é eterna a vida.
Porque, se é eterna, é só uma e nunca se acaba.
E era isso que já eu suspeitava
quando era louco, louco,
louco de pedra, louco de flor…