A Eucaristia

É difícil imaginar algo mais singelo que a Eucaristia. No começo, dizem, era um pedacinho de pão molhado no vinho. Hoje é uma hóstia, um biscoitinho muito leve, quase sem gosto, que se dissolve na boca sem esforço. É o que basta para que Cristo ressuscite em nós – como um segredo sussurrado no escuro dos olhos fechados em meditação e prece muda.

A missa segue e logo se acaba, e o mais incrível e comum dos milagres se realizou em todo seu mistério sem alarde nem pompa. É como se Deus quisesse nos mostrar como pode ser simples a vida sobrenatural, como ela não demanda esforço de nenhuma ordem, a não ser a boa vontade quase infantil de “tomar parte”, de “fazer parte”.

É de uma singeleza, de uma simplicidade. E, no entanto, não há inteligência que dê conta do que ocorre no altar. Mas, quando se está ali – a hóstia ainda se desmanchando na boca – que importa entender, se aquela experiência é, intuímos de todo o coração, o mais alto que nossa alma pode alcançar?

“Tudo é palha!”, disse São Tomás de sua Suma e de tudo mais que escrevera, depois de uma epifania que o fez levitar, segundo contam. Não que a Suma tenha perdido sua grandeza, mas o que viu o santo é indizível, e , exatamente por isso, acessível a todos a quem Deus confira a graça.

A Eucaristia é isso: um instantezinho onde vislumbramos que todo o magnífico espetáculo da Criação é palha se comparado ao milagre da missa.

“Querem tua túnica? Dá também o manto!” – pois nesse instantezinho não é que as coisas não tenham mais valor, não é isso. É que de súbito aboliu-se toda a dualidade por onde trafega a razão com suas medidas.

O instantizinho passa, porque é da nossa natureza presente deixá-lo passar. Mas ele parece que vai se acumulando em algum fundo ainda escuro, até que um dia virá à luz… Por enquanto, “Ite, missa est”: tudo volta a ter valor, mas agora revestido de uma beleza tocante, porque é a forma das coisas de exibir sua verdade…