O nascimento de Jesus é o ápice da Criação, seu fim, seu perfeito acabamento de flor.
Deus fez-se criatura de si mesmo!
Desdobrar-se de flor ou borboleta, passarinho saindo do ovo, acrobacia de gato ou colibri, coreografia de bailarina, um pas de deux consigo mesmo – qualquer coisa que no mundo seja espanto, surpresa, passe de mágica que faz sorrir…
O Verbo se fez carne.
Deus veio habitar a sua casa. Claro! Por que alguém faz uma casa senão para habitá-la? É tão óbvio! E como se não bastasse está escrito que é assim, basta ter olhos para ler as parábolas das festas, os milagres da multiplicação de tudo: o pão, o vinho, os peixes. É uma casa de fartura onde a festa é constante.
Meus Deus, que lindo é tudo! Mas olho à volta e quase me convenço que quem melhor entendia o que se passava naquela manjedoura eram os bichos, especialmente o burrinho com suas orelhas atentas e seus olhos ternos de admiração. Eles entendiam. Seu calmo silêncio prescindia de palavras pois estava ali o Verbo.
Porque nós não O reconhecemos. Ele estava no meio de nós, mas nós não O reconhecemos. Ele veio para o que era seu: a sua casa. Mas os bichos o reconheceram. E alguns homens, sim, cujo nome se perdeu – o que importa um nome? O centurião, os leprosos, as samaritanas, até os demônios. Mas o perfeito entendimento que prescinde das palavras, só os bichos mesmo. E os anjos.
Por isso, teve de morrer para salvar-nos. Foi crucificado nas travas de nossos olhos. Mas ressuscitou e abriu os Céus de onde desde então as Graças não param de cair. Nasceu para vencer a morte e as trevas.
E venceu.
Aguardemos agora sua volta.