A flor da orquídea que ganhei em dezembro iluminou meus dias por bem mais de um mês. Depois, foi fenecendo devagar, daquele jeito tão próprio das flores, até finalmente secar e cair.
Mas a beleza não se extingue.
As pétalas perderam seu frescor, mas ganharam a textura de um papel delicadíssimo, onde imagino escrever, em letras miúdas à nanquim, haikais do amor maduro àquela que escolhi.
Acaricio a flor seca, ainda branquíssima e salpicada de tons do mesmo amarelo que antes a tingia. No silêncio, ela farfallha a cada toque, e à vista lembra mesmo uma borboleta:
Bendita és tu.
Pois, como a beleza,
permaneces.
És então o amor
que, como a beleza,
permanece.
Amor que cresce,
distante dos olhos,
no silêncio.
Além do passado,
ou do futuro, o amor
em nós perdura.
Amor maduro,
que se tece de ternura,
e palavras – poucas.
Pois, é terna a voz
que diz “bom dia” a cada dia
e já isso basta.
Saber-te aí.
Ter-me aqui: eis o amor,
suficiente e perto.