Dos muitos silêncios

Eu me nutro de silêncios. Não de um impossível silêncio absoluto, figuração do nada, mas de silêncios. Dos muitos silêncios que nos envolvem e povoam.

Há o jazz e tudo que nele evoque o imenso Bill Evans.

Há essa delicada polifonia de sons distantes e efêmeros, tantos que incontáveis: é a vida, múltipla e incessante, em sua discreta exuberância – e os ouvidos divertem-se em distingui-los.

Há o silêncio dos livros velando por nós. Os livros que são mais uma espécie de anjo que Deus nos inspira a criar para o reforço da nossa guarda. Sim, são como anjos, únicos e imateriais em sua essência: cada livro é um livro, como cada anjo é um anjo.

E há o mais magnífico de todos os silêncios: a oração. Tão delicado, profundo, extenso que, às vezes, em sua pureza, pode prescindir das palavras. E o que se ouve então é como um vento que o corpo capta, todo ouvidos: “Exaudi me Domine”. E no silêncio ouço que Tu me ouves. E isso me basta.